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É difícil derrotar a ideia do Ocidente

Gerson Brasil

Secretário de Redação da Tribuna da Bahia

O oligarca russo Mikhail Fridman de repente se descobriu russo, mas tinha uma vida europeia, com a fortuna de US$ 10 bilhões. Sem a posse do ouro, agora reclama: “acreditamos sinceramente que somos tão bons amigos do mundo Ocidental que não poderíamos ser punidos”. O fato de o capital ser globalizado não implica em que o detentor seja europeu e pertencente ao mundo Ocidental, que começa pela antiguidade greco-romana, se estende pela idade média e o renascimento, e hoje e amanhã e depois. Esse é o mundo Ocidental, europeu em contraposição ao Oriental.

Putin carrega o mundo bizantino, a parte Oriental da poderosa Roma, que só veio a se dissolver após a primeira guerra mundial, com os aliados repartindo entre si uma imensidão de terras. A Rússia bizantina, eslava (os povos indo europeus), não guarda o Oriente, como a China.

Do império russo e da União Soviética nada restou. Putin tem armas, mas não tem economia, não é asiático, nem oriental, nem europeu, nem ocidental. Talvez a pior parte. A China o ultrapassou, sendo hoje a segunda economia do mundo, a primeira ainda são os Estados Unidos. Mas acontece que o mundo é Ocidental e essa é uma idéia difícil de ser mudada. Não basta apenas ter economia poderosa ou máquina de guerra invejável. O imaginário é Ocidental, o que inclui os americanos. Distanciaram-se dos ingleses, formaram sua idéia de nação e de mundo e a difundiram onde havia possibilidade de mercado. A Europa acompanhou esse modelo, porque já o tinha vivenciado, principalmente quando a Itália de 1450 a 1650 brilhou e irradiou seu poderio pelo mundo, inundando-o de mercadorias e capitais, sem dispensar Constantinopla. O historiador francês Fernand Braudel comenta no livro, ‘O modelo Italiano’, que em 1348 as alfândegas genovesas lucram 200 mil soldos. As de Constantinopla apenas 30 mil soldos.

Por volta de “1450 o universo dominado pelas lições, pelas economias e pelas inteligências da Itália é a Europa, no sentido amplo, mais o Mediterrâneo”. Rebater o Ocidente é rebater o pensamento e como a ideia não se pega como vírus ou gripe, ou enxaqueca, ou resfriado e pneumonia, russos e chineses, estes querendo assegurar uma vida dirigida pelo partido comunista para o bem de toda nação e felicidade geral, não vão se ocidentalizar e nem prevalecer na ideia.

Putin e Xi Jinping, às vezes de “mãos dadas”, como o amor e a cólera, tentam ensaiar um balé que o Ocidente não quer comprar. O ingresso é caro e o figurino é sempre o mesmo. Dão preferência ao Jaz, a bossa nova, ópera, a música clássica, o pop desenfreado e los ritmos da América Latina.

Veneza recebe anualmente 25 milhões de pessoas. Fazer desaparecer essa multidão, ou mitigar esse fluxo, com a magia da espiritualidade ou ideologia Oriental na força e em produtos made in China é admirável. Mas só isso. E conte-se também o imaginário americano mais forte do que a fé cristã.

Como não é possível se tornar Ocidental num estalar de dedos, fica sempre a dúvida se alguém vai trocar os dedos por algo que produza um estampido mais forte e encorajador e convincente de que a mágica deu certo, ou subiu no muro e caiu, levando o muro e mais. Toda escolha e fatalidade são insuficientes, não produzem o lugar sonhado. Algumas levam a servidão, a destruição, outras à liberdade, ao individualismo. As vermelhas à idiotia. Raras vezes a uma mulher bonita ou sem se desdobrar. No youtube Everything Happens To Me, com Chet Baker, com uísque, martine…

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