Cidade de verão
Algumas frases, ideias, confrontações e classificações se perdem no tempo. Uma das afirmações, das mais interessantes que se dava a Salvador, invariavelmente, em artigos, crônicas ou até mesmo em manchetes dos jornais – bastando que as ruas alagassem -, era; “Salvador, cidade de verão”.
A afirmação sumiu das folhas e mesmo com a evolução da tecnologia, de novas técnicas de engenharia, de formas evolutivas de planejamento urbano e de tantos prefeitos – desde quando o governador-primeiro, o Tomé de Souza penou para implantar a cidade-fortaleza, por causa das chuvas e deslizamentos de terra – que a única coisa certa (ia escrever líquida e certa) é se ouvir o dizer pelas autoridades: “A chuva de hoje bateu todos os recordes. Choveu mais que nos últimos mil anos”.
Interessante é que durante todo o tempo, alguns bairros sofrem mais do que outros, e novos estão se transformando em inferno para os seus moradores. Para os pauteiros dos jornais bastava cair uma chuvinha qualquer que enviava uma equipe para na região da Feira do Curtume, no fundo da Igreja dos Mares, por saber que alagava bastando um espirro do tempo. Muitos prefeitos tentaram ajeitar o lugar, mas como se trata de invasão ao mar, até hoje a água sobe e complica a vida de quem mora no subúrbio.
Boca do Rio foi, sempre, bairro problemático nas chuvas e pelo jeito continua. A Vasco da Gama é o único lugar em que se conseguiu safar com as obras de engenharia. Antigamente ela era conhecida pelos moradores como “Vasco da Lama”. Hoje alaga em alguns pontos, mas não se trata daquela miséria absoluta que ficava com as chuvas. Mas a avenida ACM, Itaigara e Patamares não resistem às tempestades. Como se não bastasse, a Pituba está alagando de forma absurda. E até a Ribeira, que está na beira do mar também não vai bem. Claro que tem alguma coisa errada com os engenheiros do município. E, como a cidade está abaixo do nível do oceano, pode ser um prenúncio de que Salvador ainda vai afundar no mar.
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Escritor e jornalista. Autor de “A Rua Chile e Suas Sublimes Lembranças” e “A Engenharia e a História da Bahia”. Email: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br