Referência em ação social, Terreiro Ilê Oba L’Okê é reconhecido como Patrimônio Histórico e Cultural de Origem Africana e Afro-Brasileira de Lauro de Freitas
O Ilê Oba L’Okê tornou-se o primeiro terreiro do município reconhecido como Patrimônio Histórico e Cultural de Origem Africana e Afro-Brasileira de Lauro de Freitas. O título atende a solicitação da comunidade, lideranças e intelectuais ligados à cultura e à arte. A indicação foi encabeçada pelo vereador Almir Santos, que apresentou à Câmara Municipal do município o Projeto de Lei nº 1.939/21.
O reconhecimento representa mais visibilidade, segundo o babalorixá e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Vilson Caetano. “O título fortalece os terreiros e contribui para o enfrentamento do racismo e do ódio religioso”, afirmou.
A patrimonialização faz parte do processo que visa transformar o espaço. O objetivo é oficializar o local como espaço de memória das comunidades de povos tradicionais e de terreiros, conforme explicou o babalorixá. “Nós vamos criar espaços na casa para que as outras coisas sejam vistas, como as roupas, as ferramentas dos orixás, a joalharia, todo o acervo antigo que não é exposto. Vamos catalogar, organizar e partir para outras ações”, contou.
Instalada no bairro do Aracuí, em Lauro de Freitas, desde 2004, a casa conta com um acervo arquitetônico imponente, com painéis, máscaras e outros objetos que buscam causar uma reflexão das pessoas em relação aos elementos africanos, de acordo com o babalorixá. “A gente mostra que através do belo, da arte, é possível rezar, fazer o encontro com o sagrado e desconstruir esse preconceito”, completou.
Importante equipamento de ação social, o espaço dispõe de cursos e oficinas de pintura, de nivelamento com fibra de vidro e tem como público alvo jovens das comunidades de Lauro de Freitas.
De acordo com a Federação Nacional de Cultos Afro-Brasileiros (Fenacab), o município tem cerca de 400 terreiros de candomblé. Deles, três foram tombados como patrimônio cultural do Estado, através do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC). São eles: o terreiro Ilê Axé Opô Aganju, em Vila Praiana; o Ilê Axé Ajagunã, em Areia Branca, e o terreiro São Jorge Filhos da Goméia, em Portão.
Comemoração
Para celebrar o reconhecimento como Patrimônio Histórico e Cultural de Origem Africana e Afro-Brasileira de Lauro de Freitas, a casa promoveu um evento virtual nesta quinta-feira (10), em sua sede, no Aracuí. O momento foi marcado pelo ritmo alujá, dedicado ao Orixá Xangô, que representa um dos ancestrais de maior importância no território iorubá, para o qual o terreiro é consagrado. A comemoração foi restrita a lideranças religiosas, integrantes do movimento negro e do governo.
O vice-prefeito de Lauro de Freitas, Vidigal Cafezeiro, destacou que o título representa uma valorização de anos de história, cultura e de ancestralidade. “Essa casa tem uma importância muito grande, além de ser referência em assistência social. Com isso, quem ganha é o povo, quem ganha é Lauro de Freitas”, afirmou.
O momento foi avaliado como de suma importância para a cultura africana e afro-brasileira, de acordo com a titular da Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia (Secult), Arany Santana. “É um momento muito importante para toda a Bahia e para o Brasil. Reconhecer esse espaço como patrimônio é um passo importante para Lauro de Freitas e uma resposta positiva ao combate à intolerância e a discriminação”, destacou.
O evento contou, ainda, com a presença do assessor especial da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado (Sepromi), Ailton Ferreira, e o titular da Secretaria Municipal de Políticas Afirmativas, Direitos Humanos e Promoção da Igualdade Racial (SEPADHIR), Clóvis Santos, que ressaltou a importância que a casa instalada em Lauro de Freitas representa para a enaltecer a religiosidade e demais aspectos da cultura afro-brasileira.