NoticiandoVariedades

Cenário atual exige atenção para saúde mental

A pandemia de Covid-19 e o envelhecimento da população são alguns fatores que impactam a saúde mental dos brasileiros

O aumento dos transtornos mentais entre a população brasileira é uma realidade que já preocupava a comunidade médica antes da pandemia de Covid-19. A partir dela, esse cenário se tornou mais preocupante, pois estudos já indicam que o coronavírus e suas consequências impactaram o crescimento de ansiedade, depressão e outros transtornos. Outro dado que merece atenção é o aumento da expectativa de vida da população, que é positivo e cada vez mais traz para o idoso uma visão de envelhecer com qualidade de vida. A incidência de demências, porém, pode aumentar no Brasil nos próximos anos. Este é o alerta de especialistas para este 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental.

No mundo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já aponta que em 2050, a prevalência da doença de Alzheimer e outras demências deve ser de 152 milhões de casos. Um estudo da Universidade Federal de Pelotas revelou que, nas últimas três décadas, a proporção de pessoas com demência e a taxa de mortalidade associada a essa condição aumentou em mais de duas vezes no Brasil. Até 2050, a doença de Alzheimer, responsável por sete em dez casos de demência, pode quadruplicar na população brasileira se medidas efetivas de prevenção não forem adotadas, segundo a pesquisa.

Diante desse cenário, se torna fundamental um olhar mais amplo e a busca de tratamentos que ajudem a prevenir as demências e aumentar a qualidade de vida, retardando o avanço da doença nos pacientes.

Estudos têm revelado que um estilo de vida cognitivamente engajado pode ter um efeito protetor para demência, o que indica a importância da intervenção cognitiva, uma das possibilidades promissoras para essa prevenção.

“São diversas abordagens terapêuticas com intervenções farmacológicas e não farmacológicas, que vem apresentando dados promissores na melhora do funcionamento cognitivo e global do idoso, aponta a gerontóloga e terapeuta ocupacional Michelle Campos.

Ela indica que as alterações na cognição, comuns com o avanço da idade, podem ser causa de muitos problemas e até da perda de autonomia, por isso é importante que o tratamento de idosos com esse quadro busque preservar o máximo de sua funcionalidade.

A estimulação cognitiva ao atuar em funções como memória, atenção, linguagem, raciocínio, funções executivas, orientação no tempo e espaço, pode contribuir retardando a evolução de quadros demenciais”, complementa.

Incidência

Os transtornos mentais são bastantes comuns nos idosos e dados indicam que entre 12,5% e 33% da população com mais 60 anos sofre com algum deles. Os mais comuns são a depressão, as demências e os transtornos de ansiedade.

Entendendo a demência

O psiquiatra e psicogeriatra André Gordilho explica que demência é um termo que abrange doenças neurodegenerativas progressivas que têm sintomas diretamente ligados à perda cognitiva – por exemplo, problemas de memória, raciocínio, linguagem e alterações de comportamento.

“Há diferentes tipos de demência, algumas reversíveis e outras degenerativas.  As principais são a Doença de Alzheimer, Demência com Corpos de Lewy, Demência Vascular e a Demência Frontotemporal. A evolução dessas doenças é diferente em cada paciente, mas existem sim fatores que podem ajudar para que ela seja mais lenta e melhorar a qualidade de vida da pessoa”, explica.

O psicogeriatra pontua que, além do tratamento medicamentoso, a estimulação cognitiva tem se mostrado efetiva, colaborando para retardar a evolução da doença e preservar por mais tempo as funções cognitivas.

Outras ações capazes de criar fatores e condições favoráveis para o envelhecimento saudável e ativo, além de uma contribuição expressiva na saúde mental do indivíduo, são: alimentação saudável, socialização, realização de atividade física, rotina estruturada, engajamento em atividades de vida diária, dentre outros.

Relação com a família

As demências são doenças que afetam muito os familiares, especialmente quem assume o cuidado direto com o paciente. A psicóloga Raíssa Silveira salienta que é comum que a família apresente estranhamento e medo diante dessa possibilidade, seja pela dificuldade de aceitar os sinais da doença e, portanto, se confrontar com a possibilidade do seu familiar estar com uma doença neurodegenerativa ou por projetar os efeitos do prognóstico na vida do paciente e dos familiares. Isso, por vezes acaba retardando o diagnóstico, adiando o tratamento e fazendo o quadro evoluir de forma mais rápida.

O processo demencial demanda das famílias decisões delicadas e um investimento muitas vezes custoso de tempo, paciência, afeto, condição física e emocional, dinheiro e abdicações, principalmente para os casos nos quais o cuidado está centralizado em somente uma pessoa. Desse modo, é de extrema importância considerar a saúde mental do cuidador, pois esta vai impactar diretamente na relação de cuidado e no quadro do paciente.

A psicóloga salienta que pode ser desafiador fazer o cuidador se reconhecer como alguém que também necessita de cuidado. “É necessária a desconstrução do ideal do ‘cuidador perfeito’ convocando a pessoa a compreender seus próprios limites”, completa a psicóloga.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *