Seria providencial, se a covid dissesse No soy loco por ti América, mas improvável
Gerson Brasil
Secretário de Redação da Tribuna da Bahia
A bela e rica Europa na posse de grande parte das obras de arte que exercem papel significativo até hoje na constituição do conceito de humanidade está vivendo revezes nas barreiras erguidas para conter a covid. Isto depois de ter vacinado parte da população, alcançado resultados parciais, indicando derrota iminente do vírus. Pouco tempo durou a vitória e novamente o continente europeu está perplexo, retomando restrições e a Áustria indica Lockdown. Últimos estudos científicos mostram mais incógnitas e menos caminhos a serem adotados, porque a taxa de incerteza sobre o conhecimento do coronavírus não cessa de se expandir. Um estudo publicado na Nature, por Sebastian Weigang, S., Fuchs, J., Zimmer, G. et al – Evolução dentro do hospedeiro de SARS-CoV-2 em um paciente com COVID-19 imunossuprimido como uma fonte de variantes de escape imunológico – diz que as variantes do covid continuam obscuras e preocupa. Recentemente já surgiram as variantes 3, Alfa, 4, Beta e 5, Gama que “representam uma ameaça global devido a transmissão mais rápida e resistência aos anticorpos”.
O imunologista Petter Brodin do Instituto Karolinska em Estocolmo disse que: “fazer qualquer tipo de avaliação de quantas pessoas desenvolvem sintomas de longo prazo depois de serem vacinadas será incrivelmente difícil”.
Os cientistas têm como fonte provável das novas variantes os “indivíduos imunocomprometidos ( com outras doenças, como o câncer), infectados a longo prazo, permitindo a replicação viral prolongada e adaptação livre ao hospedeiro”.
Não é uma declaração, ou portaria municipal, digamos, a reverter lei federal e nesse casão o que se dá por escrito está posto. No entanto, mostra como a ciência vem sofrendo revezes no enfrentamento da covid, mas com a convicção de que as vacinas são até agora o melhor caminho a ser seguido, sem deixar de lado as restrições e os procedimentos já conhecidos. Se a população está irritada com a covid, mais de 40% dos cientistas acusam o impacto negativo da doença em suas carreiras, perspectiva de ascensão abortada e perda de emprego. Por enquanto estamos na Europa, onde o tempo conspira contra a ciência e o coronavírus permanece silencioso, robustecido e encoberto. O desafio é gigantesco, e a multiplicação das novas cepas não encontra paralelo com modelos matemáticos e o conhecimento acumulado da virologia. Há ensaios, estudos, pesquisas que resultam em interrogações e deixam no limbo conclusões. O tempo da virologia é o tempo da história, do cotidiano, depositado em camadas, como um Grand Canyon, com suas rotinas e seus modos de vida, onde se contam impérios, desaforos, armadilhas, a morte ou não de deus, e quem sabe cortesãs infensas à carne. A virtude aparentemente triunfa, mas há espaço para a lubricidade, tolerância e as contrapartes.
Mas resta ainda o tempo de Borges, circular, no “Jardim das verdades que se bifurcam, se cortam ou que secularmente se ignoram, abrange todas as possibilidades”. Para alguns, alguns futuros, para outros, outros futuros, o passado, melancolia, lágrimas e monstruosidades precisam ser decifradas. O presente só é possível nomeá-lo. Uma grande vantagem em relação ao círculo perfeito, nem na matemática é possível comprová-lo.
Nas atuais circunstâncias, sempre elas, seria providencial se o vírus refizesse o poema de Capinam e dissesse; No Soy loco por ti, América, mas pouco provável. A covid impõem regras e normas enfadonhas, purgantes, que poderiam estar no quinto dos infernos, mas é somente uma expressão. Borges supõem que breve restará bandidos e guerreiros. Bom, já percorremos meio caminho, mas o florentino Alighieri já tinha alertado Borges e a nosotros que no meio do caminho “eu me encontrei numa selva escura”. Ou seja, diante dos erros e desvios da condição humana.