Projeto discute narrativas negligenciadas da independência brasileira em escolas públicas
“Era Uma Vez…Brasil” lança sua 7º edição e levará mais de 15 professores e estudantes da rede municipal de Salvador e Mata de São João para intercâmbio em Portugal
Ao pensar na Independência do Brasil, qual a primeira imagem que lhe vem à cabeça? Pois é! A cena de Dom Pedro I às margens do Rio Ipiranga gritando “Independência ou morte” está tão enraizada no imaginário coletivo que é quase impossível pensar que, na prática, a história não foi bem assim. E é justamente para desconstruir essa ideia que o “Era Uma Vez…Brasil”, projeto de arte-educação voltado para estudantes e professores de História do oitavo ano da rede pública de ensino, chega à sua sétima edição em 2023 trabalhando o recorte temático “Mais do que o Ipiranga: as independências de outros ‘Brasis’”.
Há sete anos, a iniciativa reconta a História do Brasil para além do que está posto nos livros didáticos tradicionais em escolas públicas brasileiras. A sétima edição do projeto foi lançada na última semana, em Salvador, em evento que reuniu mais de 100 professores da rede pública municipal da cidade e também de Mata de São João e contou com as presenças da vice-prefeita de Salvador Ana Paula Matos e do secretário de Educação do Município, Thiago Dantas.
Marcando o ato inicial da primeira de quatro etapas do projeto, o encontro foi conduzido pelos educadores convidados Senakpon Fabrice, Elie Fiogbé e Abiola Akande Yayi, intelectuais e influenciadores negros, naturais do Benim, que compartilham pelas redes sociais informações e análises sobre os saberes ancestrais africanos.
Nesta nova edição, o projeto cresce e passa a mobilizar, simultaneamente, as redes de ensino de quatro estados e 11 cidades: Lençóis Paulista, Macatuba, Ribeirão Preto e Serrana, em São Paulo; Salvador, Mata de São João e Jacobina, na Bahia; Recife e Belo Jardim, em Pernambuco; e, as estreantes, Santa Quitéria e Itatira, no Ceará.
O “Era Uma Vez…Brasil” desenvolve uma proposta pedagógica que acompanha o ano letivo das escolas. O projeto acontece em quatro etapas e tem como resultado de uma delas um intercâmbio cultural de 10 dias em Portugal. Esse ano, o projeto levará em novembro mais de 110 brasileiros, entre alunos e professores de escolas públicas, para a Europa.
“Nosso foco é valorizar a perspectiva dos povos indígenas e africanos na formação identitária histórica e cultural do Brasil, exaltando a ancestralidade, diversidade, pluralidade, multiplicidade e trabalhando conceitos importantíssimos como antirracismo, afrocentricidade, indigenismo e ecossocialismo em todas as etapas do projeto”, destaca Marici Vila, diretora executiva da Origem Produções, empresa idealizadora do “Era Uma Vez…Brasil”.
OUTRAS INDEPENDÊNCIAS
Após duas edições trabalhando como tema os principais impactos das transformações instituídas pelos portugueses na vida de pessoas invisibilizadas pela História clássica, especialmente no período em que a corte esteve em solo brasileiro, o “Era Uma Vez…Brasil” tem nesta sétima edição um novo recorte.
A nova proposta pedagógica, formatada pela curadora do projeto Mayara Santos, reflete sobre os processos de independência ocorridos nos mais variados territórios do Brasil. A partir da perspectiva crítica, outros atores históricos, que por vezes não são lembrados como protagonistas desse importante evento, poderão aparecer, serem discutidos e trazidos ao centro do debate.
“Acabamos de completar 200 anos de independência e, motivados também por isso, queremos sair da imagem engessada que todos têm desse momento, com esse Dom Pedro I, homem heróico, que em cima de uma cavalo branco, levanta uma espada e proclama a independência. Vamos nos aprofundar nesse processo e buscaremos lançar luzes a pessoas e narrativas negligenciadas pela historiografia cristalizada sobre o tema. Logo, será uma excelente oportunidade para conhecer e destacar a história de mulheres e homens, negros e indígenas, que lutaram pela emancipação do Brasil nas mais variadas regiões do país, e que não tiveram o devido reconhecimento”, explica Mayara.
Para viabilizar atividades durante todo o ano letivo, a iniciativa conta com parcerias importantes das Secretarias Municipais de Educação das cidades participantes e patrocínio de Grupo Moura, Lwart Soluções Ambientais, Rodonaves, Usina da Pedra, Yamana Gold e Galvani. O “Era Uma Vez… Brasil” conta com o apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, pelo Ministério da Cultura, Governo Federal.
Em seis anos consecutivos de projeto, foram beneficiados mais de 13 mil adolescentes de 434 escolas públicas localizadas em 29 municípios nos estados da Bahia, Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro.
ETAPAS
O projeto é realizado em quatro etapas, que acompanham o calendário letivo das escolas: Fatos Históricos, lançada agora, Campus de arte-educação, Intercâmbio e Comunidade. Na etapa atual, professores de História de todas as cidades que integram o projeto participam de encontros sucessivos de formação e capacitação. Nesses encontros, os docentes participantes recebem a missão de propor em sala de aula diferentes atividades de leitura, pesquisa e produção para os alunos inscritos. Como resultado, tem-se a produção de histórias em quadrinhos (HQs) e vídeos de até um minuto com a temática do projeto. As cem melhores HQs produzidas integrarão o livro “Era uma vez…Brasil”, que será distribuído em escolas e bibliotecas no Brasil e em Portugal.
Para saber mais, visite: www.eraumavezbrasil.com.br.