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Somos Velas

Estava a refletir sobre a nossa breve existência. Imaginei que cada um de nós somos como velas, de cores, formas e diferentes tamanhos, que se acendem no dia do nosso nascimento. Nos é dado o conhecimento das formas e cores. Porém, jamais o direito de sabermos sobre as suas dimensões, que podem variar de poucos centímetros a alguns metros, na dependência do merecimento de cada indivíduo. 

Diógenes, já nos séculos IV e V, a.C. andava perambulando na tentativa de achar “um único homem” que tivesse superado as fronteiras dos prazeres e dos desejos mundanos, vivendo segundo a sua essência, desprendido do obsessivo interesse pelas coisas supérfluas, sem a preocupação com as exterioridades impostas pelo materialismo das convenções sociais.  

A chama da imaginária vela, ao contrário da lanterna, não se presta a procurar aquele mesmo homem que Diógenes tencionava encontrar. A vela sobre a qual pensei, é Divina Luz, farol a guiar os nossos passos na direção dos caminhos que devemos trilhar no sentido maior da vida que, não é outro, senão o da evolução espiritual. E, a via a ser seguida não é plana e não se encontra apontada para o exterior, ela é tortuosa e mergulha profundamente em direção do eu. 

A exemplo de qualquer vela, a intensidade e duração do fogo que arde o pavio e consome a cera poderá variar a sua luminosidade e o tempo de duração, a depender da morosidade dos passos, das escolhas dos caminhos a percorrer, das intempéries e dos ventos que sopram provocados pela incúria.  

Decerto que, durante o percurso hão de existir dificuldades com o propósito maior de testarem a nossa fé, capacidade de resistência e superação das adversidades. Portanto, o que conta é a busca pelo autoconhecimento, por uma sabedoria que gravita muito além das instruções e dos conceitos formais aprendidos nos bancos das escolas e academias, embora estes não devam sem desprezados. Desse modo, o que mais importa é a nossa ação, o nosso comportamento diante das circunstâncias, o exemplo que devemos dar e seguir.  

Bem sabemos, que no contexto em que estamos a viver, os desafios se apresentam bem maiores, dificultando o caminhar e até mesmo encontrar a estrada que nos conduzirá à Perfeição. Porém, cedo ou tarde todos haverão de alcançar o imperioso destino. Contudo, deve-se não esquecer de que é imprescindível suportar, com resiliência e gratidão, as vicissitudes que porventura venham a ocorrer ao longo da caminhada. Elas são frutos dos erros cometidos em andanças anteriores e se constituem como provas de aprendizagem para os novos passos. 

A vela que se acende ao nascermos, é a simbologia de que carregamos dentro de nós  a Centelha Divina de que necessitamos mantê-la acesa para clarear a estrada que escolhemos seguir, para enfrentar as inesperadas noites escuras que em alguns instantes surgirão, nas dimensões do merecimento do nosso estágio evolutivo.  

A vela em si é, pois, Dádiva Divina que oferece as condições para despertar e garantir a chama Consoladora. Mantê-la acesa faz parte do cumprimento da nossa Lei de Responsabilidade que, do ponto de vista material, até poderá ser apagada antes de se completar a sina terrena. Entretanto, a mesma vela somente será totalmente consumida quando chegarmos ao final da senda, ainda que tenhamos de retornar o caminho quantas vezes forem necessárias, para purgar o nosso espírito dos erros cometidos. Cumprido esse périplo, a matéria se transformará em plena Luz. 

José  Araújo 

Economista e palestrante  

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