‘A cor da pele ainda define, em muitos casos, quem vive e quem morre’, diz vereadora
A execução de Marcellus Williams, homem negro de 55 anos, no estado do Missouri, nos Estados Unidos, nesta terça-feira (24), levanta questões que transcendem as fronteiras americanas e revelam padrões globais de racismo estrutural. Mesmo com a Procuradoria que o condenou recuando e solicitando sua libertação, Williams foi executado, somando-se a outro caso semelhante na última sexta-feira (20), quando Khalil Allah, 46, também negro, foi executado na Carolina do Sul apesar do surgimento de provas que indicavam sua inocência.
Como mulher negra e vereadora de Salvador, cidade de expressiva população afrodescendente, Ireuda Silva (Republicanos) ressalta como essas execuções reforçam a percepção de que o sistema de justiça criminal não é cego, mas fortemente influenciado por vieses raciais.
“Não podemos ignorar que a execução de homens negros nos Estados Unidos faz parte de uma estrutura mais ampla de desigualdade racial. Infelizmente, esse tipo de violência institucional também está presente no Brasil, onde negros são as maiores vítimas de homicídios, do encarceramento em massa e da brutalidade policial. A cor da pele ainda define, em muitos casos, quem vive e quem morre”, afirma a vereadora, que é vice-presidente da Comissão de Reparação e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher.
No caso de Marcellus Williams, condenado em 1998 pelo assassinato da jornalista Lisha Gayle, Ireuda destaca o caráter frágil das provas que o condenaram, baseadas no depoimento de duas pessoas, ignorando a ausência de evidências científicas robustas. Para a vereadora, isso reflete um padrão de injustiça que atinge homens e mulheres negros em diferentes partes do mundo, onde o racismo estrutural torna as chances de defesa desigual.
A execução de Williams ecoa profundamente no Brasil, onde o racismo institucional é igualmente devastador. O encarceramento de negros e pardos no país atinge níveis alarmantes, e os assassinatos de jovens negros, muitas vezes pelas mãos do Estado, são uma realidade brutal. “Estamos falando de um sistema que, tanto aqui quanto lá, opera com base em uma lógica racista que define quem merece justiça e quem está destinado à marginalização ou à morte. Isso é inaceitável”, declara Ireuda.
A vereadora também chama atenção para a forma como o racismo no Brasil é muitas vezes velado, mas igualmente nocivo. “Nos Estados Unidos, vemos com mais clareza a violência institucional. No Brasil, o racismo se manifesta de forma mais disfarçada, mas não menos mortal. O abismo entre as oportunidades para negros e brancos, a diferença no tratamento pelo sistema de justiça e a falta de políticas efetivas para promover a igualdade racial são provas disso.”
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