A visão do Dr. Norberto Odebrecht “Novo Rumo do Trabalho por intermédio do Sistema Cooperativo – Uma Visão Empresarial”
A OCEB – Organização das Cooperativas do Estado da Bahia, fundada em 16 de junho de 1970 passou por um momento difícil quando aconteceu o crime da praga da vassoura-de-bruxa, disseminada em 22 de maio de 1989, quando descoberto o primeiro foco da infecção em uma plantação de cacau no sul da Bahia, a OCEB entrou em declínio e o Dr. Norberto Odebrecht foi um dos alicerces que cooperou para a revitalização do Sistema Cooperativo da Bahia.
Ao assumir a Superintendência da OCEB para gerir os destinos do Cooperativismo no Estado em outubro de 1996 com a missão de reestruturar e revitalizar o Sistema Cooperativo, encontrei apenas 3 (três) Cooperativas regularizadas e uma Organização com dificuldades financeiras para honrar seus compromissos, dentre outras questões organizacionais, econômicas e sociais.
O primeiro passo foi articular uma visita aos meios de comunicação, aos Secretários do Município, Estado, Órgãos Federais, Empresas do Polo Petroquímico e Centro Industrial de Aratu, dentre outras para solicitar a cooperação de exigirem das Cooperativas à apresentação da Certidão de regularidade da OCEB quando da participação de Cooperativas em processo licitatório e na firmação de contrato, convênio com às instituições.
O segundo passo foi a realização do 1º Encontro das Cooperativas da Bahia, realizado na Casa do Comércio em 17 de julho de 1998 com o apoio e Convênio firmado com o DENACOOP – Departamento Nacional do Cooperativismo – Ministério da Agricultura, foi ai que tive a ideia de visitar e convidar o Dr. Norberto Odebrecht para proferir uma palestra, visando dar início aos novos rumos do Cooperativismo e de pronto o MESTRE atendeu o convite para participar do Encontro como palestrante com o tema: “NOVO RUMO DO TRABALHO POR INTERMÉDIO DO SISTEMA COOPERATIVO”, onde contamos e agradecemos às presenças na composição da MESA de autoridades governamentais do Município, Estado, Empresas e Imprensa na abertura do evento. Foi um sucesso o evento, contando com a participação em média de 500 pessoas.
Para conhecimento da sociedade e em especial aos profissionais jovens, transcrevemos alguns trechos da palestra do Mestre Norberto Odebrecht em homenagem in-memoriam aos seus 100 Anos – 09 de outubro de 1920 a 09/10/2020: “Novo Rumo do Trabalho por intermédio do Sistema Cooperativo”, realizada em 17 de julho de 1998 para conhecimento da sociedade.
“Minhas Senhoras e meus Senhores:
O EMPREGO ACABOU!
O FUTURO NOS RESERVA A OPORTUNIDADES DE TRABALHO PRODUTIVO AS QUAIS DEVEMOS CRIAR.
O problema é que a maioria não quer perceber essa realidade.
Assim como ocorreu com a relação entre o senhor e escravo, também se tornou obsoleta a relação entre patrão e empregado, ou entre chefe e subordinado, que caracterizou a Era Industrial.
Já vivemos na era do conhecimento, na qual o decisivo não é a “geração de empregos”, mas a criação de oportunidades de trabalho produtivo.
A “produção em massa” é coisa do passado.
Hoje e mais ainda no futuro é irreversível a tendência à produção de bens e serviços personalizados.
Na Empresa contemporânea tornou-se decisivo:
Mobilizar Equipes para a satisfação de um Cliente especifico que deseje determinados bens e serviços em um prazo e a um custo determinados.
A Pessoa de Conhecimento.
A verdade é que o “Capitão de Industria” e o “Trabalhador braçal” deixaram de ser os principais protagonistas da Economia. Ambos cederam lugar à Pessoa de Conhecimento.
A Pessoa de Conhecimento é aquela que domina um ou mais campos de saber e que se comporta como Empresário de seu próprio intelecto. Trata-se de especialista e generalista.
A Pessoa de Conhecimento, para ter sucesso, deve ter caráter e potencial para aprender assim como motivação para aprofundar seus conhecimentos e para adquirir habilidades e vontade que ampliem cada vez mais sua competência.
As qualidades que deve possuir a Pessoa de Conhecimento só podem ser obtidas por meio da educação para o trabalho na Instituição Família e na Instituição Escola e, na pratica, na Instituição Empresa, por meio da educação pelo trabalho.
Nessas Instituições ocorre a educação, o treinamento e a formação do Ser Humano, graças ao aperfeiçoamento de suas virtudes, à absorção de valores morais e à aquisição de uma Filosofia de Vida que o motive a servir e a realizar-se. Servir, em vez de “ser servido”.
Ao atuar como autônomo e/ou dono de uma Pequena Empresa, coloca suas virtudes a serviço do novo, do diferente, oferecendo uma contribuição significativa àqueles a quem deve servir. Esta é a tendência do futuro.
O Papel da Cooperativa – É própria da natureza humana a tendência ao associativismo. À reunião de forças mediante a qual o Grupo ou Equipe receba a contribuição de cada individuo e este receba, em troca, a sinergia que só a Equipe pode criar.
Para que a Pessoa de Conhecimento se sinta amparada, assistida e apoiada, ela precisa do estimulo de seus Pares, daqueles aos quais se ligue em igualdades de condições, sem qualquer vinculo de “subordinação”, tendo como proposito a realização de um objetivo nobre superior, comuns a todos. Sob este aspecto, a Cooperativa é o instrumento ideal, desde que tenha uma estrutura leve, ágil e enxuta, a qual – em vez de “ser servida” – contribua para que seus Associados sirvam melhor a seus clientes.
O NEGOCIO DA COOPERATIVA NÃO É “BENEFICIAR” O ASSOCIADO. O NEGOCIO DA COOPERATIVA É CONTRIBUIR PARA QUE O CLIENTE DO ASSOCIADO SEJA MELHOR SATISFEITO”. É PRECISO SER PARA TER.
Esse é um alerta importante, em face ao “corporativismo” que ainda grassa entre nós. Sob este aspecto, é preciso ter bem presente a palavra de ordem:
SIM AO COOPERATIVISMO. NÃO AO “CORPORATIVISMO” Para tanto, a Cooperativa deve estar estruturada para que seus Associados não “percam” tempo com questões de natureza burocrática, legal e tributária. Deve ainda a Cooperativa desempenhar decisivo papel para prover seus Associados, dos indispensáveis meios de trabalho, por intermédio de aluguel ou leasing.
A História nos mostra o exemplo de diversas Cooperativas, antes sólidas, que desapareceram devido a “gastos santuários” e a “lutas internas” pelo “poder”. Assim como os Empresários estão aprendendo, os Cooperados devem entender que: O VERDADEIRO PODER É INDISSOCIAVEL DO DEVER DE SERVIR.
É o cliente satisfeito que, ao retribuir de maneira justa um serviço bem feito, assegura o sucesso da Pessoa de Conhecimento e de sua Cooperativa. Na medida em que a Cooperativa cumprir seu papel, o Associado poderá concentrar seu tempo, suas energias e sua criatividade na identificação, conquista e satisfação do Cliente e, dessa forma assegurar seu sucesso e o sucesso da Cooperativa.
Podemos concluir que: Em vez de “conflitos”, necessitamos criar um objetivo comum, superior, que gere sinergia entre o Capital e o Trabalho; e em vez de residir nos processos e nos meios de trabalho, o enfoque deve residir na contribuição, nas oportunidades e nos resultados. Diante do que foi visto e no espirito que o anima, concluímos que o Sistema Cooperativo, não-corporativo, está voltado para o relacionamento correto entre Seres Humanos e exige: Comunicabilidade; Trabalho em Equipe; Autodesenvolvimento e Desenvolvimento do Todo, de forma sustentada e criadora de algo novo, certo e melhor para Todos”. NO.hm 17.07.98 Arq.(M) Cooperativa.
Após o evento, numa visita de agradecimento e gratidão ao Mestre Norberto Odebrecht, nasceu a ideia de incentivar e apoiar a criação de Cooperativas no Baixo Sul e depois em Gandu, e Sauipe, visando a geração de trabalho, renda e a subsistência de centenas de trabalhadores. O Mestre com a sua visão do futuro e do bem estar-socioeconômico das famílias, acreditou, investiu como uma Responsabilidade Social da Fundação Odebrecht.
Considerando na época os estudos da FAO, “Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o aumento da população mundial – que até 2050 deve atingir 9 bilhões – impõe às lideranças globais o desafio de aumentar o cultivo agrícola de maneira sustentável. Para responder a essa demanda, a produção mundial de alimentos deve crescer cerca de 70%”. Dr. Norberto se preocupou e foi assim que se deu início aos investimentos nas Cooperativas no Baixo Sul: “A efetiva produção de alimentos está diretamente relacionada ao papel do trabalhador do campo. Na Bahia, uma experiência inovadora contribui com esse cenário. O Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade (PDCIS), ação coordenada pela Fundação Odebrecht que conta com parceiros públicos e privados, promove a educação, geração de trabalho e renda, com cidadania e respeito ao meio ambiente. A atuação está concentrada no Mosaico de áreas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia, uma visão do Mestre Dr. Norberto Odebrecht em cooperar com o conhecimento, competência e nas habilidades do trabalhador para a geração de trabalho e renda das famílias.
Na região, que reúne 11 municípios e cuja força econômica está na agricultura. Uma delas é por meio das Cooperativas Estratégicas, que agregam agricultores e aquicultores familiares responsáveis pelo cultivo de toneladas de alimentos por ano, como abacaxi, banana, aipim, mandioca, peixe e palmito, distribuídas principalmente para as regiões Nordeste e Sudeste do Brasil.
As cooperativas, que integram o Pacto de Governança apoiada pela Fundação Odebrecht, são estratégicas por dominarem toda a cadeia: produção rural, industrialização e comercialização. Foram desenvolvidas a partir da vocação econômica de uma determinada área, visando atingir a novos padrões de qualidade e promover a inclusão social. Os agricultores familiares acessam tecnologias que possibilitam ampliar a produtividade e agregar valores econômicos e sociais. Com isso, as famílias produtoras têm acesso à tecnologia e maior retorno de renda com o cultivo de mandioca (para produção de farinha de mesa), hortifrútis, pupunha (para palmito em conserva) e aquicultura (para produção de filé de peixe). Na época eram 840 associados em três cooperativas:
Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia – Criada em 2004, a Coopalm orienta técnica e financeiramente os agricultores familiares que cultivam palmito de pupunha. As hastes entregues à cooperativa são beneficiadas, dando origem ao pote de palmito em conserva.
Cooperativa de Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves –
A Coopatan, fundada em 2000, garante renda e qualidade de vida às Unidades-Família associadas, além de ofertar produtos de qualidade aos parceiros sociais e clientes. Por meio da cooperativa, os associados comercializam banana, aipim e abacaxi, farinha de mandioca e massas de puba e aipim.
Cooperativa dos Aquicultores de águas Continentais – Coopecon:
Fruto de mobilização social de piscicultores e famílias da zona rural, a Coopecon apoia os cooperados com assistência técnica, beneficia e comercializa os pescados produzidos por eles, cobrindo a cadeia da tilápia desde 2010. Seus associados contam com uma Unidade de Beneficiamento de Pescado certificada pelo Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que possibilita a fabricação de subprodutos, ampliando a renda”.
O movimento cooperativista teve início na Inglaterra, no século XIX, em pleno regime da economia liberal, como resultado da intensificação da luta dos Trabalhadores influenciados pelo movimento cartista. Mais precisamente em 1844, quando 28 tecelões de Rochadale uniram-se e constituíram uma Cooperativa de consumo, denominada Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochadale.
Cooperativas baseiam-se em valores de ajuda mútua e responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade. Na tradição dos seus fundadores. os membros das cooperativas acreditam nos valores éticos da honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação pelo seu semelhante.
“EMPREGO ACABOU. COOPERATIVISMO NÃO! SABER CRIA FUTURO” NO: hm 17.07.98
GRATIDÃO: “O agradecimento é a memória do coração”. Tao-Tse
Alderico Sena – Especialista em Gestão de Pessoas, Ex-Superintendente da OCEB- Organização das Cooperativas e do SESCOOP- Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo do Estado da Bahia – www.aldericosena.com