Em audiência pública, professores denunciam que as escolas não possuem “condições” para retomada das aulas
A sessão solene homenageou a professora Clarisse Pereira que faleceu vítima do novo coronavírus e destacou a probabilidade de uma “onda de contaminação” que pode ser ocasionada caso as escolas sejam reabertas
Ministério Público, professoras da Rede Municipal e Estadual de Ensino, Grupo de Atuação Especial de Defesa da Educação (Geduc), APLB Sindicato, Fórum de Gestoras(es), Coletivo de Coordenadoras, Creches Comunitárias e Sociedade Civil discutiram durante audiência pública virtual “Educação: Direitos no retorno às aulas na pandemia” promovida pela Câmara de Vereadores por meio da Comissão de Educação, Esporte e Lazer, nesta quinta-feira(13), organizada e conduzida pelo vereador Marcos Mendes (PSOL), Vice-presidente do colegiado. O vereador Marcos Mendes (PSOL) afirmou que a reabertura das escolas pode provocar uma “onda de contaminação” e colocar em risco as(os) professoras(es), estudantes, familiares e funcionários que integram a equipe escolar. Além disso, o edil pontuou que as escolas não possuem condições estruturais básicas e nem materiais de higiene para retomada das aulas. “Eu queria que as pessoas entrassem no Imeja. As escolas de Salvador são verdadeiras casas de horrores, algo muito absurdo. Existem escolas que não tem a mínima condição sanitária para o cotidiano dito normal, muito menos nesse contexto que estamos vivendo de pandemia da COVID-19. Será uma irresponsabilidade da prefeitura reabrir os colégios em setembro” , avaliou o parlamentar.
Leilane Sales, gestora da Escola Municipal André Rebouças, representante do Fórum de Gestoras(es), pontuou que a pandemia da COVID-19 aprofundou o apartheid social. Entretanto, acredita que tanto as escolas particulares como as públicas, não possuem, no momento, condições para serem reabertas. “Nós não temos nenhuma segurança para voltarmos agora às salas de aula. Não temos nem sequer os materiais básicos para fazermos a nossa higienização e não temos como impedir que as crianças se abraçem e se beijem. Temos que priorizar as vidas das(os) estudantes, familiares e profissionais da Educação. Álcool em gel não é vacina e COVID-19 não é ideologia”, disparou a gestora.
A professora Márcia Assad, do Coletivo de Coordenadoras, sugeriu que seja realizado um trabalho intersetorial que estabeleça um diálogo entre a prefeitura, os bairros, escolas, Secretarias de Educação, Ministério Público e as Comissões de Educação. A docente ainda afirmou que a categoria precisa apresentar à gestão municipal a relação das(os) professoras(es) que possuem comorbidades e destacou a importância da convocação de concursados e da presença de Assistentes Sociais, Psicólogos e de psicopedágogos no ambiente escolar para o próximo Concurso. ” Ao abrirmos as escolas, vamos aumentar a contaminação pelo novo coronavírus, que vai atingir toda a população”, alertou a docente.
O professor e representante da APLB-Sindicato, Marcos Barreto, afirmou que a rede pública municipal possui 140 mil estudantes e a rede estadual 160.000 alunos, e, caso ocorra a reabertura das escolas, serão 300 mil alunas(os) que precisarão sair do isolamento social, um contingente que vai utilizar o transporte público, lanchonetes e outros estabelecimentos comerciais, além de professoras(es) e demais funcionários das escolas. “Muitas vezes cotizávamos a compra dos pilotos, dos materiais básicos para o desenvolvimento do nosso trabalho no dia dia das escolas. Agora, vamos ter que cotizar a compra do alcóol em gel e de outros materiais de higiene. Nenhum professor deve dispor de seu próprio recurso para trabalhar. Isso é uma infração à atribuição do cargo público”, denunciou o sindicalista, ao lamentar o falecimento da professora Clarisse Pereira, vítima do novo coronavírus, que também era diretora da APLB-Sindicato.
Quanto à polêmica referente ao trabalho remoto, o professor Marcos Barreto salientou que o ensino à distância não consta na legislação municipal e, segundo ele, a partir de uma perspectiva pedagógica o ensino a distância não pode ser realizado na Educação Infantil, pois baseia-se, principalmente, no desenvolvimento psicomotor das crianças. ” O espaço e o corpo precisam estar presentes! Nós precisamos ouvir mais os professores que conhecem a realidade epistemológica dos nossos alunos”, salientou.
O deputado estadual Hilton Coelho(PSOL) classificou a ausência do executivo municipal durante a audiência pública de “vergonhosa” e ressaltou que a crise sanitária das escolas públicas de Salvador é histórica, mas na atual conjuntura de pandemia da COVID-19, configura-se como um risco ao direito à vida. “A reabertura das escolas agora vai representar um crime à vida. Estamos em um patamar altíssimo de mortalidade pelo novo coronavírus. As declarações do governador Rui Costa foram lastimáveis quando ele afirmou que os professores tem disponibilidade de irem à praia e aos shoppings mas não tem para retornarem às salas de aulas. Uma total falta de respeito às professoras e professores do nosso Estado. Uma forma de tentar estigmatizar a categoria”, repudiou o parlamentar, Pré-candidato à prefeitura de Salvador pelo (PSOL).
” No estado de exceção temos mais dúvidas do que certezas. Estamos em processo de construção.O trabalho remoto pode ser feito a partir de regras, menos na Educação Infantil”, ponderou a Promotora de Justiça, Cínthia Guanaes, do Ministério Público. A audiência foi transmitida pelas redes sociais da Câmara e TV Câmara canal aberto 61.4.