Especialista crítica BRT de Feira de Santana e culpa Zé Ronaldo por desvirtuar projeto; “o modal, na prática, não existe”
Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana considera a situação “gravíssima” e detalha retrocessos na mobilidade da cidade
Um projeto político-eleitoral, que não teve como objetivo a solução da mobilidade na cidade. É essa a opinião do o professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), engenheiro civil e urbanista, Allan Pimenta, sobre o BRT da segunda maior cidade baiana. Para ele, o sistema “sequer existe”, cumprindo apenas a função de arrematar votos para o seu idealizador, o ex-prefeito José Ronaldo, que tenta retornar a Prefeitura, como candidato do União Brasil.
“O BRT exige faixa exclusiva e Feira de Santana não tem. Logo, não tem BRT. As intervenções realizadas foram usadas unicamente com o objetivo político, um desenvolvimento em retalhos, sem uma visão sistêmica, integrada da cidade, sem uma visão de longo prazo”, avaliou.
Morando provisoriamente em Melbourne, na Austrália, onde está concluindo o doutorado em engenharia de transportes e urbanismo, o feirense Alan Pimenta, especialista em engenharia de transporte, desde o curso de engenharia civil na UEFS tem se dedicado a estudar a mobilidade em Feira. Sobre o BRT considera que, além de não ter sido implantado, prejudicou ainda mais a mobilidade, trazendo, entre outros efeitos, o encarecimento do sistema para os usuários.
“É uma vergonha. O que foi feito aqui nos últimos 20 anos, é gravíssimo. A cidade está se aproximando de ter um trânsito tão ruim quanto Salvador em horário de pico, embora tendo uma população seis vezes menor”, avaliou.
Pimenta relata que em 2013, o então prefeito José Ronaldo anunciou a implantação do BRT. O sistema iria desafogar o trânsito, dar conforto e comodidade aos usuários e seria concluído em dois anos Prometeu ainda construir estações no Pamplona, Sim e na Ayrton Sena, além de ciclovia na Avenida Maria Quitéria, de passagem subterrânea no cruzamento da Maria Quitéria e Getúlio Vargas, além da pavimentação em concreto armado, dos corredores de tráfego.
“Quando a prefeitura recebeu os quase R$ 100 milhões era para fazer, mas Zé Ronaldo, com sua visão de melhorar a mobilidade só para os carros, não fez”, afirmou o professor da UEFS.
Sem ter implantado o BRT, o ex-prefeito costuma citar a construção dos viadutos para justificar os R$ 100 milhões gastos no projeto. Entretanto, segundo Pimenta, os viadutos melhoram o trânsito inicialmente, mais rapidamente podem se tornar indutores de fluxo, por se tornar opção preferencial de motoristas que seguiriam outro trajeto, retornando os congestionamentos, conforme aconteceu em Feira, “que nem a duplicação dos viadutos está resolvendo”.
Para Alan Pimenta, mobilidade não pode ser tratada de forma isolada, como fez o ex-prefeito, mas a partir de definições do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PPDU), Lei de Uso e Ocupação do Solo e um projeto global que não seja voltado exclusivamente para carros, mas priorizando o transporte público e pedestres, até mesmo para motivar a não utilização constante dos automóveis.
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