Colunistas

Frodite

Eu não consigo entender essa gente; de verdade, não. Não estamos mais no tempo de severas críticas e tão enfadonho preconceito. A vida mudou, as coisas se modernizaram, as mentes foram abertas, tabus caíram, o ranço do provençalismo não cabe em uma sociedade liberta. É deprimente ver e conviver com criaturas pré-históricas, antiquadas, respirando ainda ares paleontológicos. Gente pequena, de mente fechada, presente neste século, mas antenada num passado distante. As sociedades organizadas, hoje, são gerenciadas por outras leis, outros princípios, outros valores. Portas, portões, muros e cancelas tombaram; a bandeira que tremula é a de liberdade. Minha consciência não pode ser fustigada pela opinião de outrem; minha vontade é soberana; sou senhor do meu destino e deus dos meus passos, ninguém mais tem o direito de me julgar, e menos ainda me condenar. As conquistas sociais me dão plenos poderes para pensar e fazer o que julgo ser correto. Aliás, aí reside o cerne da questão: O que é o correto? O que é certo e o que é errado? O signo da liberdade plena responde: Tudo é relativo e circunstancial. A verdade é patrimônio meu, de mais ninguém. Não importa o que pensem ou digam, o que vale é o que eu mesmo elejo como certo ou errado. Agora mesmo estou muito indignado com comentários tacanhos que tive que ouvir, por causa das minhas escolhas afetivas. Ninguém tem nada a ver com isso. Vivemos em um mundo livre, cada vez mais sem fronteiras. As instituições formais não existem mais. As novas leis criadas me dão cobertura e poderes para que eu escolha com quero viver minha relação de amor. Falando em amor, estou perdidamente apaixonado pela minha encantadora Frodite. É com ela que divido o melhor dos meus dias. Sempre caladinha, me olha com paciência e sei que me compreende. Está sempre disponível e nunca me negou a atenção que preciso. Tem sido o meu suporte nos momentos de aperto, e literalmente me carrega nos ombros. Até agora ela não tem me negado nada do que proponho e necessito; é uma companheira fiel e compreensiva. Eu procuro a reciprocidade, pois toda relação que se preza tem esse caráter. Oficializei a nossa união estável, por uma questão de respeito e consideração, e do grande amor envolvido. Não me dá trabalho em nada, e na sua simplicidade, nada exige de mim. A única coisa que ensaia reclamar é quando tiro seus carrapatos e aparo seus cascos.

Itamar Bezerra.
Poeta e escritor

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