Salvador

Não se trata de perdão, mas de libertação da vítima das garras do agressor, diz Ireuda Silva

A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, vereadora Ireuda Silva (Republicanos), demonstrou preocupação com o videoclipe da cantora gospel Cassiane, intitulado “A Voz”, que, na avaliação da republicana, minimiza e romantiza ‘a tragédia social’ da violência doméstica. Na narrativa, uma mulher, após sofrer inúmeros episódios de agressão por parte do marido, ora e termina por perdoá-lo.

“Fiquei estarrecida ao assistir. É inacreditável. As pessoas que produziram esse clipe estão completamente desantenadas do que acontece no Brasil e no mundo no que se refere à violência contra a mulher. É um desserviço à sociedade e ao nosso trabalho de discutir o tema e orientar as vítimas, cuja primeira atitude deve ser no sentido de denunciar o agressor e se proteger”, diz Ireuda, que é evangélica.

“Infelizmente, achar que o agressor vai se regenerar da noite para o dia é uma ilusão que precisamos desfazer. Atitudes como essa levam muitas mulheres a demorar para buscar ajuda, aprofundando um ciclo de violência e sofrimento que muitas vezes acaba em feminicídio. Portanto, é inadmissível incentivar esse comportamento em pleno 2020. Não se trata de perdão, mas de libertação da vítima das garras do agressor”, acrescenta.

A vereadora cita ainda um dado revelador da conjuntura atual: em meio à pandemia do novo coronavírus, as denúncias de violência contra a mulher aumentaram 40%, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMDH). Em março, com o início da quarentena, o avanço foi de 18%.

Após a repercussão negativa, a cantora lançou uma nova versão do clipe, em que a vítima aparece ligando para o 180, o que leva o marido a ser preso. Para Ireuda, no entanto, isso não é o bastante, já que a narrativa termina da mesma maneira: com a esposa voltando a morar com o agressor, já fora da cadeia. “No fim das contas, ela volta para o covil do leão”, diz.

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