Nem legalismo nem fascismo, apenas Espiritismo!
Recentemente, tive a oportunidade de ler a opinião de uma liderança espírita local, publicada no Jornal A Tarde, sob o título “Fascismo Espírita?”. Escreveu que foi motivado a emitir a sua opinião para rebater os argumentos do que considerou “erro de percepção”, num texto que leu na página do Twitter, dos Jornalistas Livres (@J_LIVRES).
Entretanto, o opinante não se ateve aos argumentos iniciais, quando afirmou que o Espiritismo não obedece a um “corpo hierarquizado”, como acontece em muitas das instituições religiosas.
Perdeu a oportunidade de esclarecer que, apesar dessa ausência de cargos hierárquicos, o Espiritismo segue princípios e valores doutrinários e que conta com o apoio da Federação Espírita Brasileira (FEB), instituição que cumpre a missão de dar suporte aos médiuns, palestrantes e Centros Espíritas, de traduzir e editar livros e outros informativos para a divulgação da doutrina e, além de tudo, praticar e estimular como premissa básica a caridade, a justiça e representar o Brasil junto ao Conselho Espírita Internacional (CEI).
Poderia ter aproveitado o espaço para expor de forma doutrinária e filosófica que a proposta e o propósito da Doutrina Espírita é a reforma íntima, moral e espiritual dos indivíduos, com vistas ao progresso e à busca da perfeição, afastando de maneira contundente a intensão obscura e nefasta de quererem, a exemplo do que vem sendo feito em outras religiões, politizar e impor uma pauta ideológica “progressista” da Nova Ordem Mundial, no cerne da Doutrina Espírita Kardecista.
Entretanto, para contrapor a narrativa ideologizada e provocativa do conteúdo da matéria dos Jornalistas Livres, preferiu escorar-se nas Leis, que foram e continuam sendo utilizadas por “preclaros” juízes e juristas, para prender de forma insidiosa, pessoas inocentes, a pretexto de terem supostamente cometido atos de terrorismo sem, contudo, atender às mínimas formalidades processuais legais, Inclusive, elencando-as.
Utilizou-se do artifício de mudar o foco da questão, optando por citar os artigos dos dispositivos legais que, infelizmente, com interpretações enviesadas, julgou terem sido bem aplicados ao caso a que se refere, por entender que todos os que foram presos são “criminosos e não senhores inocentes e ingênuos”.
Situação em que famílias inteiras, na sua maioria idosos e, até mesmo, crianças e portadores de comorbidades que sequer se encontravam na Praça do Três Poderes, durante os atos de vandalismo, mas que foram, ao arrepio da Lei, sequestradas enquanto acampavam em frente do QG do Exército.
No texto, de maneira subliminar, revelou o seu posicionamento político ideológico escondendo-se sob o véu do termo “legalismo”, quando disse: “a maioria espírita não tendemos ao fascismo, somos legalistas…”. O espiritista, na expressão da palavra, jamais deveria propalar-se de “maioria ou minoria legalista”, ou, de qualquer outro rótulo ideológico partidário, pois, O Consolador Prometido, mais que o “legalismo” terreno no ensina o respeito à Justiça Divina, à caridade, à tolerância e o amor incondicional, motivo pelo qual deveria, por princípio, não se posicionar em defesa de vergonhosos atos, absolutamente desumanos e desprovidos de justiça, práticas típicas dos regimes totalitários.
A Doutrina Espírita Cristã gravita acima das questões político-partidárias.
Porém, entre todos os argumentos, o mais lamentável foi o oportunismo de utilizar como justificativa rasa, o fato de que, por ter recebido “manifestações de contradita” em relação ao que fora afirmado “pelo admirado pregador”, ter-se colocado no direito de criticar, de forma desmedida, deselegante e maldizente, o mais renomado palestrante e a maior liderança espírita do Brasil reconhecido, inclusive, internacionalmente.
Bem sabemos que é direito basilar dos indivíduos as suas opções por essa ou aquela corrente, ainda que seja por interesses e ou conveniências. Mas, é de causar espanto e tristeza ver indivíduos, atirando pedras contra os companheiros e irmãos que comungam, principalmente, das mesmas crenças e fé religiosa aos quais, por princípios e valores éticos e morais, deveriam como exemplo maior manifestar fraternidade e respeito.
O silêncio seria mais salutar, como nos ensinam os espíritos do André Luís : “Procure silenciar onde você não possa prestar auxílio” ; do Luminoso Chico Xavier: “Devemos efetuar campanhas de silêncio contra as chamadas fofocas, cultivando orações e pensamentos caridosos e otimistas, em favor da nossa união e da nossa paz, em geral”; ou, ainda, da nossa veneranda Joanna de Angelis: “Reserva-te o direito de permanecer indiferente às provocações de qualquer natureza. Numa época de insensatez como esta, o mal anda em liberdade, seduzindo incautos”.
Exemplos comportamentais dessa ordem, contribuem para que a Doutrina Espírita, infelizmente, encontre-se em acentuado processo de decadência, senão de perceptível estagnação.
Jair Araújo – escritor/Membro Correspondente da ALACIB – Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil, Mariana – MG; Membro efetivo da SPBA – Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas e do INBRASCIMG – Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais – Minas Gerais.