O que fazer com o calor dos prazeres e sargento Isidório

Gerson Brasil, Secretário de Redação

Jair continua apanhando sistematicamente de parte da mídia, tornou-se uma diversão nas redes sociais, alimenta programas por longo tempo, que se sucedem espichando temas, tal como acontece nas novelas. Nas redes sociais há todo tipo de reclamação e temor de que o auxílio emergencial venha garantir a reeleição.

Não se sabe se o descontentamento é com o uso ardiloso do auxílio, ou se a bronca se dirige ao proletariado infiel, que só pensa em ganhar uns trocados, traindo a “consciência de classe” e abandonando o deísta Lula.

Depois de vários programas e reportagens sobre a Amazônia, descobriu-se que as florestas em Angola e no Congo abrigam 10.000 incêndios ativos contra os 2.127 do Brasil. Em todo o mundo, as florestas estão ardendo, mas só a Amazônica repercute na mídia internacional, e claro, aqui, diuturnamente.

Aparentemente Jair deixou de lado a cloroquina e passou a se empenhar por aliados, desalinhados, com o objetivo de emplacar um programa de renda mínima elogiado e temido por todos, porque embute o risco de carimbar a reeleição. Como não há recursos, inventa-se mil e uma fontes, sem que se saia do lugar.

Mas se Jair abandonou o proselitismo de liberar a economia da quarentena social, governadores e prefeitos sofrem todo o tipo de pressão e calculam o efeito colateral das urnas nas medidas que elaboram para abrir espaços públicos à multidão.

Mas a pressão maior vem da atmosfera, que Bloch, o amigo do jovem narrador de “Em Busca do Tempo Perdido”, disse desconhecer. “Não me deixo influenciar pelas perturbações da atmosfera, nem pelas divisões convencionais do tempo. Ignoro o uso desses instrumentos infinitamente perniciosos e, por outro lado, infinitamente burgueses: o relógio e o guarda-chuva”.

O calor chegou e a despedida será em maio de 2021. Bloch pouco se importava se fazia sol ou chuva, dizia viver fora das contingências físicas, porque mais lhe agradava o uso do cachimbo de ópio. Mas nas cidades litorâneas o calor é sinônimo de lazer, porque sinônimo de praia. Diversão gratuita, garantida por oito meses, enquanto o verão europeu acontece de meados de junho a meados de setembro, e dizem que em Londres cai num domingo.

Estabelecer regras para o banho de mar é como pregar o uso do cigarro sem nicotina e as devidas substâncias a proporcionar um bem-estar, bem mais rápido, com economia de tempo e dinheiro, que se gastaria numa sessão de meditação.

Enfrentar a Covid em condições normais de temperatura e pressão tem sido desafiador e as mortes cedem lentamente. Daqui para frente, no calor, o combate ficará mais difícil ainda, e não se doma o desejo, a ardência, o prazer, com cartilhas ou aparatos de repressão.

Se bem que Lênin em 1917 mandou descer a borracha nos campesinos que se recusavam a lutar. Controlar a sensualidade é um caminho perigoso. A Bíblia, no livro 1 dos Cânticos, não abriu mão da sensualidade. “Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho”.

O que fazer? Quem sabe, ir ao cinema, ou votar no segundo turno em sargento Isidório, para ele “criar” emprego e renda e derrotar a Covid. No Youtube, Doris Day, com voz de contralto, realça Whatever Will Be, Will Be (Que sera, sera), e Dean Martin pilota seu Volare. Bom acompanhá-los com Martini.