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Opinião de leitor

Numa dessas postagens enviadas pelo WhatsApp, recebi o texto “O carnaval assusta”, publicado nos blogs https://afrontejornalismo.com.br e www.lulacerda.com.br, muito bem escrito, de autoria do escritor Luiz Antônio Simas, cuja narrativa se encontra ilustrada com imagens de Carnaval, com a seguinte mensagem do remetente, “Outra visão do Carnaval”; sobre a qual, em contradita, tomei a iniciativa de me posicionar.

Uma crônica rica em poeticidade e frases de efeito. Porém, recheada de pressupostos que desafiam a lógica. Exorbita em asserções e falsas ou equivocadas razões que, à primeira vista, podem envolver os leitores desatentos numa trama de figuras alegóricas capazes de conduzi-los a desviar o foco das raízes precípuas dos problemas socioculturais, econômicos e políticos. Nos apresenta o Carnaval como elemento cultural capaz de curar, ainda que paliativamente, todas as mazelas nas quais o povo no seu mais amplo sentido, se encontra inserido.

O Carnaval não “assusta porque afronta a decadência da vida em grupo, num mundo cada vez mais individualista”. É fato que estamos a vivenciar um progressivo processo de individualização, evidenciado desde o dia em que inventaram a televisão. Atualmente, vivemos numa era em que a robótica, a tecnologia e as mídias sociais se encontram a exacerbar o isolacionismo. Carnaval assusta em razão da violência galopante. Em nossa realidade, causada pela dicotomia das classes sociais, pela pobreza extrema, consequência das desastradas políticas governamentais, na educação, na saúde e segurança pública, pela corrupção sistêmica e pela impunidade.

O reavivamento dos “laços contrários à diluição das comunidades, o fortalecimento do pertencimento e sociabilidades”, encontram-se enfraquecidos dentro das comunidades por nenhuma outra razão que não seja por conta da ausência do estado; uma vez que este se tornou refém das milícias, do narcotráfico e do galopante consumo das drogas. Cenário através do qual foi instituído o império do medo. Inicialmente, nas comunidades. Conduto, hoje, diante da complacência do estado, se alastrou por todas as cidades.

É de uma cruel e utópica poeticidade afirmar que o Carnaval “cria redes de proteção social nas frestas do desencanto”, como também considerar que “para muita gente é também uma oportunidade e alternativa de sobrevivência material, afetiva e espiritual”. São argumentos que, além de serem humilhantes em relação aos menos favorecidos, se revelam satisfatórios com o fato de oferecer uma solução de sobrevivência paliativa para tais famílias. Uma manifestação de condescendência diante alternativa de absurda efemeridade!

O Carnaval pode ser “uma festa coletiva”, mas não deixa de ser excludente. Ledo engano, afirmar que o Carnaval é “inclusivo”. É “rueiro”, mas para o povo, o espaço público se encontra estreitado entre as cordas e os tapumes dos camarotes e das arquibancadas, onde a elite se deleita.

É “tenso’’ devido a crescente violência, é “lâmina” porque ceifa a “flor” da esperança revelando que a alegria é fruto de mera ilusão, haja vista, que o dia a dia não é um eterno carnaval, e, logo “nos coloca diante o assombro da vida.”.

Há muito que os Carnavais vêm perdendo a essência de uma diversão popular inocente, espontânea, produzido e celebrado pelo povo e para o povo, com as primordiais características de festa romântica, divertida, debochada, pacífica, de beleza e do bom gosto, inclusive o musical, sem a ostentação, o elitismo e o empresarialíssimo discriminador.

Atualmente, além de tais mudanças, observa-se que o festejo momesco se transformou em palco para o sistema promover, no inconsciente coletivo, transformações sociais de interesses político-ideológicos e partidários. Constitui-se, pois, além do que se tem ensinado nas escolas e do que se divulga nas mídias sociais, num perfeito ambiente para a desconstrução dos valores e dos princípios éticos e morais judaico-cristãos, promovendo e sedimentando nas novas gerações um estado de alienação, com vistas a facilitar o controle e a manutenção do poder político numa Nova Ordem que se encontra em vias de ser estabelecida.

“Teu interesse fútil por espetáculos, …. são como ossos jogados aos cães para acalmá-los, como iscas arremessadas aos peixes, … são como a corrida dos ratos assustados ou as marionetes manipuladas por fios.” Marco Aurélio, Meditações / Livro VII; (Imperador Romano 121 – 180 d C.).

Jair Araújo – escritor / Membro Correspondente da ALACIB – Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil, Mariana – MG e do INBRASCIMG – Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais – Minas Gerais; Membro efetivo da SBPA – Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas.

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