Primeiro transplante pediátrico de medula óssea da Bahia, através do SUS, é realizado pelo Martagão
Há um ano, a família da pequena Isabela Cerqueira se deparou, após a menina sentir fortes dores no braço, com um diagnóstico que assustou os pais: neuroblastoma, um tipo de câncer raro que estava no nível 4, o mais avançado. Diante do quadro, ela, que tem apenas quatro anos, precisava de um transplante de medula óssea. O problema era que, abaixo dos 14 anos, esse tipo de procedimento não era feito na rede pública do estado. No entanto, essa realidade foi modificada quando o Hospital Martagão Gesteira, referência em pediatria, passou a realizar o procedimento para crianças e jovens de 0 a 18 anos pelo SUS. Isabela foi a primeira paciente do novo serviço que passa a ser ofertado para a população baiana.
No estado, o transplante de medula óssea (TMO) já era realizado por outras unidades de saúde, mas somente em casos a partir dos 14 anos. Antes, para realizar o procedimento, era preciso se deslocar para outros estados, o que gerava diversos problemas para as famílias, como gastos extras e distanciamento dos familiares. No entanto, a pequena Isabela, que mora em Serrinha com os pais e duas irmãs, não precisou mudar de estado. Ela recebeu alta, nesta terça-feira (27) e seu estado de saúde é considerado bom.
“Este transplante é um marco histórico por vários motivos. O primeiro deles é porque vai no cerne da missão do Martagão Gesteira de fazer justiça social do ponto de vista humanitário, na medida em que o Hospital consegue trazer este procedimento inédito, para uma população de baixa renda, excluída do serviço de saúde privado e que depende exclusivamente do SUS. Como em toda a sua história nos últimos 55 anos, o Martagão tem trabalhado sempre em prol daquelas crianças que mais precisam”, ressalta o presidente da Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil (entidade mantenedora do Martagão), Carlos Emanuel Melo. Cerca de 50% das crianças atendidas no Martagão são de famílias com renda de um salário mínimo ou menos.
Em 2015, a Bahia figurava entre os últimos estados do Brasil em número de doações e transplantes, além de altas taxas de negativa familiar. “Estamos mudando essa realidade e isto só foi possível devido ao apoio incondicional do governador Rui Costa, que disponibilizou recursos do tesouro estadual para reduzir as dificuldades na realização de transplantes, incluindo estímulo financeiro às equipes médicas e hospitais, até o investimento em equipamentos, exames e medicamentos de alto custo na capital e interior”, destaca o secretário da Saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas, ao parabenizar o Martagão pelo primeiro transplante de medula óssea. Durante a coletiva, ele anunciou que “o Governo do Estado vai fazer o aporte de recursos necessário” para a continuidade do programa de TMO.
“Esta é uma ocasião extremamente especial porque representa um marco para a saúde pública da nossa capital baiana, um ganho enorme para a população que depende do SUS, especialmente para nossas crianças. Mais uma vez o Martagão, referência no atendimento pediátrico, reafirma seu compromisso com a sociedade baiana”, frisa o secretário municipal de Saúde, Leo Prates.
O pai da primeira paciente, o lavrador Rubem Cerqueira, conta que foi no Martagão que descobriram o tumor. “Foi um baque para nós, mas aqui encontramos todo o suporte”, diz. Após o transplante ser realizado, a família fez uma festa no município de Serrinha. “Ela já está com diagnóstico que o tumor sumiu. A gente espera que, de agora em diante, ela melhore cada dia mais. Nossa família está em festa, fizeram uma comemoração grande, com muita alegria”, acrescenta.
A partir de agora, a paciente continuará a ser acompanhada pelo Hospital, com restrições de alimentação e contato social nos próximos três meses, por causa da imunidade. A oncopediatra do Martagão Natália Borges, especialista em Transplante de Medula Óssea, conta que o processo, iniciado em agosto deste ano, ocorreu sem problemas.
“No caso específico de Isabela, ela estava com neuroblastoma no grau mais avançado, com infiltração medular. A chance da doença recidivar somente com a quimioterapia era muito alta. O transplante faz com que essa chance de recidiva seja reduzida”, detalha a oncopediatra, que foi residente médica do próprio Martagão e passou a trabalhar no quadro de colaboradores da instituição filantrópica.