Recuperação de monumento ressalta legado de Cosme de Farias
Um dos monumentos mais tradicionais de Salvador, o busto do Major Cosme de Farias, situado no bairro de mesmo nome, é foco de manutenção promovida pela Prefeitura, por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM). A iniciativa faz parte da ação municipal de recuperação e preservação dos monumentos na capital baiana.
A peça, criada há mais de 60 anos pelo artista plástico Jair Brandão, possui altura total de 2m e é feita de bronze fundido, assentado sobre pedestal de forma plana vertical, tipo púlpito em chapa de ferro dobrada sobre base de concreto. A intervenção está sendo feita pelo artista plástico e restaurador José Dirson.
Para a reforma estão sendo utilizados materiais como produtos químicos e microesfera de vidro para a realização da limpeza do busto feito de bronze. As ferrugens encontradas na base de estrutura do equipamento foram retiradas através do produto de solvente e lixas.
Em seguida, foi aplicado um produto químico contra ferrugem, onde a estrutura foi pintada novamente com tinta da cor original da estrutura. A placa de bronze também foi recuperada.
A iniciativa acontece no ano em que completa cinco décadas do falecimento do jornalista, poeta, funcionário público, político e advogado provisionado, que ficou conhecido pelas ações em favor da população mais pobre de Salvador. “Eu lembro perfeitamente de quando era criança e ele vinha aqui trazer cartilhas de ABC, cadernos de caligrafias, lápis e borracha, dentre outros materiais para estudo. Não tinha uma criança sequer que não recebesse esses materiais”, conta a guia de turismo Creusa Carqueija.
“Ele não teve filhos próprios, mas adotou algumas crianças e eu fui uma delas. Pela idade dele, eu o chamava avô. A relação de Cosme de Farias com o bairro era de amor e paixão. Ele foi o mentor da campanha nacional contra o analfabetismo e o seu interesse era que as crianças tivessem acesso ao estudo”, completa Creusa.
O presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, destaca a importância da revitalização do busto para a história do bairro de Cosme de Farias e de toda cidade de Salvador. “É relembrar que esse legado deve ser perpetuado. Um salve a esse exemplo de homem, de político, de transformador sociocultural de Salvador, principalmente, do bairro onde morou e leva seu nome.”
Preservação – Nascido e criado no bairro, José de Jesus, de 63 anos, relata que também conheceu Cosme de Farias e ele era uma pessoa amada por todos. “Eu também fui uma das crianças beneficiadas com os materiais didáticos. Então, revitalizar esse equipamento é você manter o nome Cosme de Farias vivo, ele que foi o advogado dos mais necessitados. Precisamos influenciar outras pessoas como esse nome forte, principalmente os mais novos precisam saber da história de Cosme de Farias. A relação dele com o bairro precisa ser lembrada sempre”, disse.
José Dirson alerta que a população deve adotar uma política de preservação e valorização com os equipamentos históricos entregues. “É preciso que os frequentadores da praça, os residentes do bairro e a vizinhança também cuidem do monumento. Não adianta haver a reforma ou recuperação e, dias depois, a peça estar degradada”.
História — Cosme de Farias nasceu no dia 2 de abril de 1875, na freguesia de Paripe, em Salvador. Atuou como jornalista em diversos jornais impressos de Salvador entre os anos de 1894 e 1972, dentre eles Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Diário da Bahia, Gazeta do Povo, A Bahia e Diário da Tarde.
Em 1909, foi patenteado “Major” pela Guarda Nacional. No ano de 1914 iniciou a carreira como político, sendo eleito deputado estadual. Em 1915, fundou a “Liga Baiana contra o Analfabetismo”, instituição que funcionou até a década de 1970, publicando cartilhas e mantendo escolas para a população mais pobre de Salvador e de algumas outras cidades da Bahia.
Sua maior realização na advocacia foi o habeas corpus em favor da cangaceira Dadá, a Sérgia Ribeiro da Silva, viúva de Corisco, em 1942. Faleceu em Salvador no dia 15 de março de 1972, aos 96 anos.
Fotos: Jefferson Peixoto/Secom