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Sem sermos europeus votamos nos europeus

Gerson Brasil

Secretário de Redação

As conversas sobre a terceira via, incluindo a torcida, e as declarações, estão fora do lugar. Mas não se deve ao número de candidatos, nem as desconfianças que pesam sobre eles. Este serve, mais ou menos, aquele não serve e aqueloutro não é de confiança, ou todas as opções são ruins, ou são boas, ou não se sabe na cabeça de quem colocar o chapéu, por absoluta ‘confiança’ no que se está tecendo.

Nunca houve a terceira via no país, porque os arranjos políticos não são feitos na defesa dessa ou daquela idéia e sim no aparelhamento da política e consequentemente das cadeiras congressuais e na máquina do governamental, essa a jóia da coroa; Como disse Raimundo Faro, em “Os donos do Poder” ‘assim é porque sempre foi’.

Em 1985 o Congresso elegeu de forma indireta Tancredo Neves presidente do Brasil, na coalizão (o famosos governo de coalizão válido como nunca). Do lado de Tancredo a “Aliança Democrática” Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) apoiado pela ‘dissidência’ da Frente Liberal (FL). Todos, juntos bateram Maluf, representante do PFL, que ‘brilhou’ nos tempos da ditadura.

Bolsonaro não é a ditadura, nem Lula a “Aliança Democrática”. O entendimento político está sendo traçado, como sempre foi, na avaliação do controle da Câmara dos Deputados e do Senado e nas comissões. Ou seja, o olho está no orçamento e nas emendas e nos cargos das estatais.

Uma discussão está ficando de lado e dificilmente será levada adiante, é a criação das Federações Partidárias, mas isso implode os acordos e as traições, porque os 34 partidos têm interesses divergentes quanto a repartição do bolo.

Antes de se discutir a terceira via deve-se colocar a organização partidária brasileira em questão, de forma que a disputa das eleições se coloque no campo político e não na área do personalismo.

As federações levariam os partidos a se enquadrarem em regras e a defender uma única idéia, atentos a direitos e deveres, a partir de um estatuto, o que dificultaria o conchavo no Congresso. Seria um avanço e tanto institucionalmente. Mas a realidade é outra, não só no Brasil como de resto na América Latina. O personalismo, o caudilhismo e os militares estão sempre presentes.

A democracia burguesa fica de pé em função dos partidos e não de uma colcha de retalhos, onde cabe o esquerdismo e a Opus Dei, o atraso e a esperteza da fé travestida de religiosidade, e as invenções momentâneas, que lá adiante vão se agarrar ao governo. A democracia burguesa vive também de instituições fortes desatreladas do governo a garantir a observância dos fundamentos das leis e não o entendimento do dia, distribuído semanalmente por alguns judiciários.

Cada um dos 513 deputados e dos 81 senadores custa mais de US$ 7 milhões por ano – seis vezes mais que um parlamentar francês.

Não temos Place Vendôme, Galeries Lafayette, Avenida Foch e nem o Café Les Deux Magots. Estamos na periferia do capitalismo, também chamado de países em desenvolvimento, que nunca acontece, mas sem sermos europeus votamos nos europeus.

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