Semiótica em Lícia Soares de Souza
A doutora Lícia Soares de Souza, semióloga de renome internacional. Oficial da Ordem de Rio Branco pela divulgação da cultura brasileira em França e no Canadá.
*Por Taurino Araújo
Nela, as mediações entre teoria e real exemplificam inata predisposição para captar não apenas as “grandes ideias”, mas os subprodutos da vida diária, os sonhos, os trechos de conversa ouvidos na rua, os “pensamentos marginais”, o cultivo do “espírito alegre”, que anima a “imaginação sociológica” de Charles Wright Mills.
Oficial da Ordem de Rio Branco pela divulgação da cultura brasileira em França e no Canadá, Lícia Soares de Souza concluiu o doutorado em Semiologia na Universidade do Quebec em Montreal em 1990.
Em sua Pragmática pós-metafísica, Edilene Matos destaca na palavra única de Lícia Soares de Souza a presença de múltiplas vozes entrecruzadas que se debateriam para abrigar o fluir desordenado de desejos, denúncias e utopias.
Evidencia-se em seu pensamento o hibridismo da linguagem moderna dos antigos folhetins nos quais ela própria parece entrar em cena como protagonista e coadjuvante haja vista a força das cargas descritivas e narrativas de seus múltiplos escritos mundo afora e universidade a dentro
Licia Soares de Souza é vice-presidente da Associação Internacional de Estudos Quebequenses para as Américas (AIEQ), autora de diversas conferências que resultaram em sua Représentation et idéologie: les téléromans au service de la publicite, referência área de Comunicação.
Através do caráter pedagógico dos desfiles das escolas de samba e a sua proposta de compartilhamento desses discursos em todos os espaços compreensivos das representações do que é ser brasileiro, artigo de Cleonilton Souza, A Tarde, A2, 14-03, destaco a produção internacional de Lícia Soares de Souza nesse sentido.
Ali, não existe a exigência de adequação, mas a absoluta liberdade temática e de invenção filosófica, que vence (e ressignifica!) todo dogmatismo linguístico e axiológico, como vimos em Bakhtin e Rabelais, operam-se deslocamentos na rede diacrônica: tom irônico, paródico e até injuriante dos quais se vale a semióloga em suas (re)interpretações. A sua semiótica é sempre provocativa da ligação destes hemisférios norte e sul, a todo tempo.
É Fusão de carnaval, romance e academia que eu destaco como sendo pesquisa variegada e muito consistente através da qual transparecem uma confluência de pensamento, sentimento e ação, enquanto nos conduz pelos meandros da mediação.
Pretexto dessa lembrança, seriam as considerações daquele autor de que no Carnaval de 2023, a Imperatriz Leopoldinense, inspirada na literatura de cordel — na qual Edilene Matos é uma das maiores autoridades no Brasil — reverenciou a história de Lampião, dicotomia de usurpador para uns e revolucionário para outros.
Em sua Pragmática, a passagem das guerrilhas para o crime organizado e, sobretudo, um percurso que nos ajuda a melhor entendermos o Brasil.
JORNAL A TARDE, A 3 23 DE MARÇO DE 2023.