Tempos Assistenciais: indicadores de qualidade ou operacionais?
Por Vinicius Menezes*
No setor de saúde, as instituições mais maduras e que trabalham com conceitos de gestão de qualidade e excelência operacional estão muito familiarizadas com indicadores. É consenso que só conseguimos evoluir se medirmos e avaliarmos os pontos mais importantes para a instituição.
Entre os indicadores do sistema de saúde temos vários que se correlacionam à capacidade operacional ou estrutural, os chamados indicadores de eficiência ou desempenho da instituição. Também há outros que se relacionam à qualidade da assistência e segurança do paciente.
Em 2002, a Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ) definiu indicadores de segurança do paciente (PSI) como “indicadores da qualidade específicos que refletem a qualidade do cuidado nos hospitais, mas focam em aspectos da segurança do paciente”. Especificamente, os PSI rastreiam problemas que os pacientes vivenciam como resultado da exposição ao sistema de saúde, e que são susceptíveis à prevenção, através de mudanças ao nível do sistema ou do prestador.
Na Vital Gestão, entendemos que os acordos de tempos assistenciais relacionam as metas de tempos que devem ser alcançadas no atendimento do paciente dentro da unidade para a realização de um processo. Também defendemos que esses acordos devem ser de conhecimento de todos da organização de saúde, sejam eles envolvidos direta ou indiretamente com o processo. Assim, caso alguma dessas metas deixem de ser cumpridas, qualquer um possa ter a liberdade de agir para corrigi-la.
Qualidade e segurança
Em uma análise rápida, ao falarmos de tempo para execução de um processo, tempo para entrega de um resultado e outros tempos do processo assistencial, podemos pensar erroneamente que estamos discutindo ou medindo eficiência operacional. Isso pode levar a uma falsa interpretação de que queremos que as pessoas se preocupem apenas com a velocidade do processo. Essa é uma premissa falsa. A verdade é que que estamos tratando de qualidade e segurança do paciente na sua essência.
O primeiro acordo de tempos assistenciais nas unidade de pronto-atendimento é o “tempo senha – classificação de risco”, que deve ser de dez minutos, como é definido pelo Protocolo de Manchester. Ele busca garantir a classificação de risco em tempo hábil, sendo de suma importância para garantir acesso ao sistema de saúde de urgência e emergência. Acesso é um dos pilares da qualidade em saúde definido por Donabedian.
Segurança do paciente
Um dos principais acordos é o “tempo de tomada de decisão”, que é o tempo que o médico deve levar entre a consulta e a reavaliação do paciente para avaliação clínica e resultados de exames para definir qual a conduta será tomada. Controlar o tempo de tomada de decisão está relacionado a garantir reavaliação do paciente com brevidade, de acordo com seu quadro clínico e a garantia da realização de todos os exames em um curto espaço de tempo. A tradução disso é segurança do paciente, pois evitamos dano pela espera exacerbada.
Um eletrocardiograma realizado em até dez minutos diante de um protocolo de dor torácica é prioritário em relação a um exame com indicação de rotina; um antibiótico aplicado em até uma hora em um protocolo de sepse é prioritário em relação a medicações sintomáticas. Essa análise e ações são referências de equidade, que é outra dimensão da qualidade.
Eficiência
Medir os tempos assistenciais é só uma parte do processo. Quando estabelecemos metas e começamos a medi-las temos a responsabilidade de dar ferramentas e fazer um trabalho de educação permanente para que todos possam cumprir as metas. Quando buscamos reduzir tempos assistenciais, queremos que as pessoas executem suas tarefas com eficiência, dando todos os passos necessários para garantir a segurança e que sejam eliminados os desperdícios envolvidos. Eficiência é outra dimensão da qualidade, assim com o esforço de melhoria que só é alcançado somando educação e indicadores.
Os tempos assistenciais acordados são indicadores de qualidade e segurança de grande importância pela sua característica prática imediata, universalidade para todas as equipes e setores e que podem ser facilmente aplicáveis. Se temos que medir para melhorar, vamos começar medindo o que pode ter impacto de melhoria imediata e os tempos assistenciais podem ter esse potencial.
*Vinicius Menezes é CEO da Vital Gestão, médico cardiologista e gestor de Assistência e Qualidade do ISAC. Entusiasta da “Governança Assistencial” no Brasil, levando instituições de saúde ao próximo nível.