Turistas, imigrantes, correi, a intolerância dispensou o pecado

Gerson Brasil
Seria aconselhava que imigrantes e turistas se unissem, de forma a construir uma hegemonia, talvez seguindo a orientação de Gramsci (um bloco histórico, sem picuinhas, entre camponeses e operários, para derrotar a burguesia, na impecável astúcia de Maria-Antonietta Macciocchi). Uma maneira de combater os grupos antituristas europeus, bem organizados, com táticas e estratégias para impedir a invasão dos bárbaros a Veneza, Barcelona, Málaga, Florença et al. Os citadinos desses e de muitos outros lugares já marcaram a data de sua Bastilha, para o dia 15 de julho deste ano, é o que mostra Lisa Abend, do New York Time, versão online, na edição de 29 de abril.
“Viajantes para a Europa, marquem em suas agendas (e tragam suas capas de chuva), grupos ativistas em todo o sul da Europa planejam realizar protestos contra o turismo. Embora a forma exata dessas manifestações ainda não tenha sido definida, é bastante provável que armas de água estejam envolvidas”.
A disposição é enorme e a queixa mais ainda. Acabou a paciência do citadino, que não quer ver suas cidades invadidas por um bando de bárbaros, consumido tudo o que ver. “Impulsionado pelo aumento dos aluguéis, escassez de moradias, poluição e transporte público superlotado, o apelo sinaliza uma continuação — e possivelmente uma escalada — das manifestações que eclodiram por toda a Europa em 2024”. As cafeterias e os bares agora não mais acolhem turistas e sim inimigos.
Amar o próximo é possível e detestá-lo também, e num prato fundo e não no pires da xícara a abrigar o chá e o bolo. Um pouco de franqueza e veracidade ajudaria tornar o embate mais claro, fora de subterfúgios, fingimentos e ilusões, um elixir que mascara as relações sociais, porém é indispensável para tornar a civilização palatável.
O curioso nesta história é a animosidade ter superado o homem econômico, isto porque, as cidades que passaram a detestar os turistas têm a sobrevivência ancorada nesta indústria. Dito de outro modo, não se trata de lugares intensivos de parques industriais ou de polos tecnológicos, como o Vale do Silício, na Califórnia, nem cidades têxtis, como as existentes na China.
Então, não é razoável o planejamento acontecido em Barcelona e anotado por Lisa Abend: “cercaram um ônibus turístico lotado de passageiros, penduraram uma faixa anunciando as manifestações de 15 de junho no para-brisa e o esguicharam com pistolas de água”.
O que está acontecendo com os turistas guarda similitude com a ira despejada sobre os imigrantes. Ajudaram como mão- de- obra barata a formar diversa nações, mais nesse momento estão sendo emparedados não somente pelos Estados Unidos, como também pela Europa. A Itália decidiu só reconhecer estrangeiros como italiano se apresentar um parentesco como filho ou neto de citadinos residentes no país. Go home ancestralidade.
Não há como negar que o homem econômico, aquele que se adequa as regras e à régua, para acumular fortuna e privilégios e também fugir da pobreza, é a medida de toda e qualquer discussão, aquilo que pensa e é pensado, e formatado, pelas instituições simbólicas: o casamento o batizado, a comunidade, a linguagem etc, que poderiam cunhar um moral com uma ratio mais convincente, quem sabe roçando um pouco na luxúria e acenando para a superstição.
Não se sabe quando, mas há momentos em que as paixões supera o homo economicus, na direção de canonizá-lo ou de maltratá-lo, neste caso sem que seja possível o perdão, a bela e majestosa criação do cristianismo. Como é adorável o pecado. “Excusez-moi, monsieur, tous les jours”? Não abuse. Lembre-se que a fome sempre será saciada. “Dai de comer aos que têm fome” é um chamado bíblico, Mateus 25:35-40. Boa confirmação. Quanto a gula, regue-a ao longo das horas, dias, crie um calendário, um mapa, um escrutínio, onde os pecados vão se alojar, consoante as cautelosas remissões. Se possível, evite a inveja, denigri o pecado.