Em clima de emoção, jornalista lança livro sobre comunidades quilombolas de Juazeiro, na Bahia
Em tempos de pandemia, o livro “Às Margens do Velho Chico Nascem as Histórias”, da jornalista Ana Carla Nunes, foi lançado de forma virtual na noite desta terça (30), no Instagram do Portal Culturama. Em um clima descontraído e afetivo, o jornalista Adriano Alves bateu um papo com a autora do livro sobre o processo de construção da obra e sua contribuição para a luta das comunidades quilombolas.
Por meio de entrevistas, depoimentos, relatos de vida, registros fotográficos, a jornalista documentou os aspectos socioeconômicos, rituais religiosos, rotinas de lazer e trabalho das comunidades remanescentes de quilombos: Quipá, Alagadiço e Barrinha da Conceição, no interior de Juazeiro. Em sinergia com as histórias e memórias de Antônio Cândido de Brito Filho, o Seu Tonico, Roberta Maria dos Santos Oliveira, a Dona Roberta, e Alvina dos Santos, Dona Vinô, Ana Carla compôs sua obra e acredita que “esse material vai contribuir muito no registro da memória dessas comunidades (…) para que esses moradores possam ter documentado e registrado parte das histórias deles”, afirma Nunes.
O encantamento pelas narrativas e envolvimento de Dona Roberta, Dona Vinô e Seu Tonico na luta pelo acesso à terra, autoafirmação e tradições do seu povo despertou o desejo de Ana Carla em dar visibilidade e eternizar a história de vida desses três personagens. “São três personagens que significam muito para essas comunidades. Eles participaram de um processo de luta, de resiliência, participaram de importantes processos de construção das comunidades, pra elas se firmarem. Então, foi algo muito bacana e difícil escolher”, declara Nunes. A autora ainda ressalta que vivenciar essa experiência e escrever o livro aflorou seu lado mais humano e sensível às necessidades do outro.
A antropóloga Simone Ramos, Analista em Reforma e Desenvolvimento Agrário, no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA/Petrolina, com atuação na área de Regularização Fundiária de Territórios Quilombolas, também participou da live, compartilhando um pouco da realidade das comunidades quilombolas da região. Ela destacou a luta pelo reconhecimento e etno-desenvolvimento de comunidades quilombolas nos processos de titulação da terra. “Muitas vezes as áreas que essas comunidades estão são áreas de posses e aí elas ficam a mercê, ficam refém dos grandes proprietários (…). Essas terras não são apenas para plantar, elas são vistas para reprodução física da sua cultura, da sua religião, para ter continuidade. É questão do pertencimento”, ressaltou Simone.
Para a antropóloga, o livro “Às Margens do Velho Chico Nascem as Histórias” vai possibilitar a visibilidade das comunidades apresentadas no livro e muitas outras comunidades quilombolas: “quando você traz essas memórias, você já tá ali reafirmando essas identidades (…) a partir daí as comunidades se vêem e aí o poder público vai querer saber quem são essas comunidades, outros pesquisadores também”, argumenta Simone.
Às Margens do Velho Chico Nascem as Histórias – Em dezembro de 2014, o livro “Às Margens do Velho Chico Nascem As Histórias” foi escrito. A obra nasceu como resultado do Trabalho de Conclusão de Curso da graduação em Comunicação Social – Jornalismo em Multimeios. Agora, em 2021, o livro foi reeditado e ganhou versão em e-book, audiolivro (disponível no perfil do instagram da autora @anacarla.nunes e do Portal Culturama) e impresso em uma tiragem de 1.000 exemplares por meio da Lei Aldir Blanc. Dos livros impressos, 500 exemplares serão doados para comunidades quilombolas Quipá, Alagadiço e Barrinha da Conceição, bem como bibliotecas públicas e instituições de ensino de Juazeiro e Petrolina.
O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e do Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI) (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.