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Abalos sísmicos e a Barragem Yamana Gold em Jacobina são debatidos por especialista

Um evento inovador e que debateu um importante tema, principalmente para a região de Jacobina. Assim foi a realização da 4ª edição do “Vamos Debater?”, que tratou sobre abalos sísmicos e a Barragem de Yamana Gold. O evento, realizado pelo Crea e correalizado pelo Colégio de Entidades Regionais e Associação Regional dos Profissionais de Engenharia, Agronomia e Geociências (Arpeag) reuniu diversos especialistas.

A abertura do evento foi feita pelo presidente do Crea-BA, engenheiro agrimensor Joseval Carqueija, que fez uma homenagem ao engenheiro João Batista Paim, que faleceu na última segunda-feira (19), e em sua memória dedicou o evento ao profissional que prestou relevantes serviços para a engenharia baiana. Solicitou um minuto de silêncio aos participantes.

A especialista em vistoria e inspeções prediais e atuante na Defesa Civil de Jacobina, Natália Santos, explicou que uma das maiores consequências que ocorrem no município são as fissuras estruturais, que são consequências de abalos sísmicos. “Assim que a gente detecta essas fissuras, essas aberturas de estruturas, a gente notifica e tenta, da melhor forma possível, ajudar a população”.

O deputado estadual Marcelino Galo falou sobre a necessidade de informação da população. “Se existe uma possibilidade de defesa da população, de criar uma vacina, começa pelo bem informar, a gente esclarecer do ponto de vista técnico, do ponto de vista científico, daqueles que estudam e compreendem essa questão, para que a gente possa explicitar ao máximo para a população, como meio de defesa”, argumenta.

O físico Anderson Farias, professor do Departamento de Geofísica da UFRN e coordenador do Laboratório Sismológico da UFRN fez um alerta: “a sismicidade no Brasil, apesar da gente viver num país que está no interior de uma placa, ela existe para fins de engenharia e de risco, e não deve ser negligenciada”. Ele esclareceu ainda que a sismologia pode ajudar no monitoramento da área estudada avaliando riscos e efeitos dos terremotos na região. “É importante para esclarecer a população e assessorando as ações da defesa civil e demais agentes públicos e privados, e fornecendo treinamento e informação para as pessoas que possam estar interessadas.”

O engenheiro civil e ex-presidente do Comitê Brasileiro de Barragens, chamou atenção para o rigor que deve ser dado às fiscalizações e monitoramento dos empreendimentos. “Nos temos que ser rigorosos com o tratamento de toda e qualquer elemento que leve a garantia de segurança da barragem, então estamos no caminho certo. Temos que fazer isso.”

O engenheiro civil, especialista em solos e consultor em barragens, Luís Cláudio Lacrose, focou sua apresentação para outros problemas de barragem. Manifestou sua preocupação em torno do monitoramento das pequenas e médias barragens, “muitas são implantadas pelo poder público e são abandonadas. É necessário fazer gestão de segurança e conhecer os riscos desses empreendimentos”, colocou, destacando o plano de monitoramento remoto de barragens.

O promotor de justiça do Ministério Público da Bahia, Pablo Almeida, lamentou a ausência de representantes da Yamana Gold na live. Ele disse que a altura da barragem já atingiu o máximo e já tem mais de 7 milhões de metros cúbicos de rejeitos. “Em relação aos abalos sísmicos, o maior temor está relacionado ao fenômeno da liquefação e esse risco existe. A Yamana precisa fazer monitoramentos permanentes, pois eles fazem monitoramentos pontuais e com equipamentos com calibração vencida”, observa, ressaltando que segundo laboratório da UFRN registrou 16 abalos entre os anos de 2020 e 2021. “O MP entende que está demonstrado o impacto da atividade da empresa nos abalos, se não em todos, mas em muito deles. É preciso reforçar o monitoramento e publicar os dados, fortalecendo os instrumentos de gestão de risco”.

O Geólogo Mário Carvalho, que é gerente da Agência Nacional de Mineração na Bahia, destacou a estrutura a ANM e o que a instituição faz no Brasil. “São 18 profissionais para cuidar de 867 barragens de mineração, sendo 437 enquadradas na Política Nacional de Seguranças de Barragens”, afirmou, informando ainda que foi aprovado concurso público para a inserção de 567 profissionais em todo Brasil.  Ele disse ainda que é obrigação das empresas fazerem monitoramento das barragens e da ANM de fiscalizar esse trabalho.

O gestor ambiental, Jorge Sergipano, usou sua participação para enfatizar a necessidade de um escritório do Inema em Jacobina. “As famílias clamam por socorro e precisam de informações sobre a barragem. Quando é solicitada resposta, oficiamos a empresa que nos informou que estava em fase final de contratação de especialistas e equipamentos para a detecção da relação ou não da atividade da empresa com os tremores”, coloca.

O engenheiro agrônomo Paulo Luz, que diretor da superintendência de proteção e Defesa Civil do Estado da Bahia, aproveitou a oportunidade para informar que até 2010 não existia lei de monitoramento de barragens. “Viramos essa página e temos um regulamento jurídico sobre o tema”. Ele lembrou que no passado visitou a barragem e constatou a elaboração do plano emergencial e a realização do primeiro simulado do Norte e Nordeste do Brasil. “Na próxima semana estaremos em Jacobina com a pauta de visitação da barragem, quando cobraremos da Yamana Gold o seu plano de comunicação. Também vamos elaborar o Plano de Contingência de Jacobina com vários cenários”.

O engenheiro de minas Pedro Lemos, conselheiro e diretor do Crea, que é especialista em desmontes de rochas controlados, abordou que é função do Crea proteger a sociedade e que estará disponível para atender às comunidades próximas a barragem.  “O Conselho verifica a responsabilidade técnica dos profissionais envolvidos no trabalho com as barragens, mas ao propor este debate, mostra seu comprometimento com a sociedade de Jacobina”.

Luiz Rogério professor da Ufba e conselheiro do Crea colocou à câmara de Geologia e Engenharia de Minas à disposição e lembrou que estava no plano de trabalho do colegiado a visita à barragem de mineração em Jacobina, que foi impossibilitada pela pandemia. “Precisamos descortinar e traduzir os termos técnicos para o entendimento por parte da sociedade. Esperamos poder em breve cumprir essa agenda”.

Mateus Amorim, que é secretário da Associação Regional dos Profissionais da Engenharia, Agronomia e Geociências, ressaltou a importância do primeiro evento promovido pela entidade em parceria com o Crea na região. “Disponibilizar a estrutura do Conselho para a comunidade de Jacobina é algo pioneiro. Agradeço a participação de todos e asseguro que este será o primeiro de muitos eventos que serão promovidos na região”, finaliza.

De acordo com o presidente do Crea-BA, Joseval Carqueija, eventos desta natureza farão parte da programação do Crea-BA, “este foi o primeiro evento onde discutimos a questão dos impactos da barragem em Jacobina, mas o Crea vai estar presente em discussões que envolvam a engenharia, geociências e agronomia em todo o Estado, seja a convite das instituições locais, associações e/ou entidades de classe, ou a partir da nossa própria percepção em discutir determinados assuntos como a FIOL e a ponte Salvador-Itaparica”, finalizou.

Com informações das jornalistas Nadja Pacheco e Karen Caldas.

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