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Os mortos importam, mas os vivos importam mais ainda

Gerson Brasil,

Secretário de Redação da Tribuna

Os mortos importam e os números nos dão quadro gigantesco, mais de 340 mil pessoas perderam a vida em razão da pandemia. Os vivos importam mais ainda, porque não conseguem trabalhar e manter a sobrevivência econômica. Os programas de auxílio emergencial, do governo federal e de estados e municípios, minoram o problema, mas estão longe de socorrer aqueles sem condições de  gerar renda.

Não estamos numa crise fiscal fruto de desequilibro financeiro, nem numa recessão. É a economia que está quase parando, principalmente no setor de serviços, o que inclui a atividade turística, o comércio e a zona de diversão e arte.

Com a mesma urgência da vacinação, atrasadíssima, também merece todo o empenho não deixar desaparecer ou tornar a vida miserável, aqueles cujas atividades não cabem no Home Office. A Covid emperrou a produção e o consumo, que também é produção, e no embate com a ciência se recusa a dobrar a esquina, onde estão todos os fogos. Como Montaigne, o vírus, se transmuta e muda a trajetória, por vaidade. “Se o tempo é feio à direita, viro à esquerda. Volto; é sempre o meu caminho”.

Louvável que se faça manifesto, abaixo-assinado, para demover Jair de que vacina é um bem e não um acessório. Contudo, mas louvável é enfrentar a pandemia de forma ampla e levando em consideração alentada parcela dos brasileiros a viver na rua, fonte do sustento; o que é incompatível com o isolamento social, necessário.

Da arrecadação tributária, conforme o pacto federativo, descrito nos artigos de 145 a 162 da Constituição, a União fica com quase 70% das receitas, cabendo a estados e municípios os outros 30%, sendo que os municípios ficam com uma parcela menor.

Portanto, o planejamento de socorro aos trabalhadores e subtrabalhadores à míngua deve ser efetivado em termo amplo e nacional, sem qualquer restrição, mesmo porque os deputados orçaram na peça de ficção do orçamento de 2021 a quantia de R$26,6 bilhões de emendas.

Quando houve a crise do sistema bancário brasileiro, em 1990, o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, Proer, destinou aos bancos volumosa quantia, cuja dívida se acumula há mais de 30 anos. Só o extinto Banco Nacional tem um saldo devedor de R$ 20,659 bilhões. O Banco Econômico deve R$ 7,35 bilhões e o Crefisual, outros R$ 26 milhões. Esses dados colhidos pelo deputado Gustavo Fruet, em resposta a um pedido de informação apresentado ao Banco Central, em 2019, não sofreram correção desde 2012.

Quando da crise do sub prime (financiamentos imobiliários que se tornaram lixo), o governo  dos Estados Unidos deixou de lado a cartilha do mercado livre e interveio com 800 bilhões de dólares em várias instituições financeiras, especialmente na Fannie Mae, na Freddie e no Lehman Brothers Holdings Inc.

Ou seja, o dinheiro só aparece quando a causa é “justa e sistêmica”. Populações estão fora desse cálculo, mas no caso da pandemia, tanto a produção oficial, como a marginal se esfarelam e abraçam aqueles bem visíveis que habitam a população, um conceito abstrato. Só em São Paulo, 27 hotéis suspenderam as atividade, e aqui na Bahia o setor está à beira de um ataque de nervos.

Na ficção de Daniel Defoe, “Um Diário do Ano da Peste”, sobre o surto de peste bubônica no verão de 1665, em Londres, o narrador dá conta da “miséria que aqueles tempos impunham aos pobres contaminados que não tinham alimentos nem remédios, nem médicos ou farmacêuticos para tratá-los, muito menos enfermeiras para cuidá-los. Muitos morreram nas janelas, gritando por socorro e mesmo por comida da maneira mais infeliz e deplorável”. No Youtube, Alice Russel canta Citizens, com força e maestria.

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