Salvador

Mãe lamenta dores sentidas pelo filho, mas esperança é de superação

Sofrimento de crianças estimulou médica baiana a escrever livros infantis

“Se eu pudesse transferir a dor do meu filho para mim, com certeza o faria. É desesperador e muito triste para uma mãe ver seu filho sentindo dor e não conseguir resolver ou atenuar o problema”, declarou a estudante de farmácia Patrícia M. Barbosa (49), mãe do Vinicius B. Santana (10), portador da rara Síndrome de Loeys Dietz. O menino tinha 9 anos quando queixou-se de dor nos braços e foi encaminhado para tratamento em uma Clínica da Dor. Embora sua rotina fosse diferente das outras crianças, pois precisava de ventilação mecânica que limitava o espaço onde ele podia ficar, ele não queixava-se de dor, mas quando este sintoma surgiu, a situação piorou muito.

Patrícia encontrou muita dificuldade para encontrar um(a) profissional especializado(a) em tratamento da dor que aceitasse atender a criança, sobretudo por sua pouca idade. Contudo, a anestesiologista Anita Rocha abriu uma exceção à regra da idade mínima para atendimento e decidiu atender Vinícius. Segundo sua mãe, embora o menino ainda sinta dores nos braços, desde que começou a ser tratado pela médica, este sintoma está bem mais atenuado. “Hoje, ele está mais tranquilo, bem menos irritado, já suporta melhor  a dor, já mais branda. Temos esperança de que em breve ele estará totalmente livre dela”, declarou.

Diante deste e de outros tantos casos de enfrentamento do sofrimento e da dor vivenciados por crianças e seus familiares, a anestesiologista Anita Rocha decidiu buscar uma maneira de minimizar o impacto dessa realidade. Foi então que a médica se descobriu autora de livros infantis. “Adoro estar com crianças. Elas me transmitem paz, inocência, leveza e tranquilidade. Vê-las adoecer e passar por dificuldades sempre foi algo que mexeu muito comigo. Viver com dor, seja ela aguda ou crônica, não é fácil. Essa experiência é ainda mais forte quando consideramos o universo infantil”, destacou.

Seu primeiro livro, “A Transformação de Flor”, é protagonizado por “Flor”, uma lagartinha que consegue superar suas dores antes de ganhar asas ao se transformar em uma linda borboleta que, logo, aprende a voar. Já em “A viagem de Flor”, a personagem alça novos voos em direção a descobertas e experiências incríveis ao lado de sua turma, faz novas amizades e ajuda a iluminar a escuridão de seres que vivem em um reino distante. Através da história, Anita Rocha busca conversar com as crianças sobre o que as aflige, compartilhando esperança e ajudando-as a superar momentos e sentimentos ruins.

“A viagem de Flor”, segunda obra de uma trilogia de livros infantis que abordam conceitos importantes relacionados à saúde, será lançada no dia 28 de janeiro, a partir das 15 horas, no Museu Palacete das Artes, em Salvador. A tarde de autógrafos, que incluirá contação de histórias, pintura artística, música, pipoca e algodão doce para a criançada, será também beneficente, já que o lucro obtido com a venda dos livros será doado aos Missionários da Fraternidade Cristã (MFRAC), que há mais de 40 anos assistem crianças e jovens da periferia soteropolitana.

Segundo a médica, quando a dor é tratada precocemente e de forma adequada, a retomada das atividades da vida diária acontece mais rapidamente. Entretanto, estudos recentes revelam que as crianças podem desenvolver sensibilização e amplificação da dor, tornando-se adultos com dor de difícil tratamento. Para evitar que isso ocorra, é preciso criar estratégias que instrumentalizem a criança ao enfrentamento mais rápido deste sintoma, seja através de medicamentos ou de técnicas não farmacológicas que permitam o desenvolvimento de resiliência diante do sofrimento.

“Pensando na resiliência, capacidade de enfrentamento das adversidades da vida e sua superação e no aprendizado de como fazer com que algo não venha mais a machucar ou trazer sofrimento, comecei a escrever livros infantis. Acredito que através do diálogo e de instrumentos lúdicos, podemos ajudar nossas crianças a desenvolverem habilidades emocionais de transformação e recuperação diante das dificuldades da vida”, destacou a médica. Anita Rocha é mestre e doutora em Anestesiologia, supervisora na residência de Dor no Hospital Santa Izabel e coordenadora da Clínica da Dor (Itaigara Memorial).

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