Os cavaleiros do apocalipse batem à porta
Jolivaldo Freitas
Repisarei aqui, um tema antigo, um escrito velho, mas que relendo vejo tão atual. É que – como eu disse há muitos anos, lá no passado, que nos acostumamos a qualquer coisa, contanto que seja batido e repisado pelo tempo. Habituamos tanto a achar que a humanidade está mais civilizada e consciente, que ninguém presta atenção e se intimida com a possibilidade real de uma nova Grande Guerra, desta vez sem precisar que homens enfrentem os inimigos com baionetas, canhões, cavalos-de-guerra e infantaria. Basta uma ordem criptografada e um apertar de botão de qualquer lugar para que os mísseis atômicos devastem.
E cá do Atlântico Sul parece que o mundo é lá longe e que uma Terceira Guerra Mundial só afetaria aos norte-americanos e aliados europeus; à Rússia e seus coligados do Oriente Médio e Leste Europeu. Não se imagina que um acerto de contas atômico, face à questão da Síria e seu gás Sarin e sua guerra civil, vá atingir a todo o planeta e não haverá região que fique fora do raio de ação dos agressores, dos contendores e da peste que virá a bordo dos novos cavalos alados dos quatro cavaleiros do Apocalipse (Peste, Guerra, Fome e Morte) as armas atômicas.
Todo mundo hoje tem sua coleção. A Rússia manteve quase que intacto seu arsenal oriundo da Guerra Fria e tratou de evoluir seu processo de armazenar urânio e a ONU fez de conta que não estava vendo. Os Estados Unidos desativaram milhares de ogivas, mas guardou outros milhares para uso quando fosse necessário. Do período da Guerra Fria, que teve seu ápice nos anos 1960 com a crise entre EUA e Cuba, no caso da fatídica invasão da Baía dos Porcos, quando soviéticos e americanos estiveram a um apertar de botão para deflagrar o fim do mundo, outras nações se fortaleceram com o domínio da fusão do átomo, a exemplo da China, Paquistão, Índia, Iraque – mesmo sob controle – e agora até mesmo a pobre e miserável Coreia do Norte.
Volto a afirmar como é interessante como nos acostumamos com tudo. Quem passou pelo período de enfrentamento aberto entre os EUA e a União Soviética lembra, e a história revela, que o pânico era tamanho que em todos os países foram construídos bunkers e abrigos nucleares. As duas grandes nações entre 1945 e 1970 disputavam espaço político, militar, estratégicos, geopolíticos e econômico. Alguns historiadores observam a corrida armamentista era uma espécie de Deus (EUA) e o diabo (URSS), em que o primeiro representava as liberdades civis e o último a ditadura e a doutrina comunista.
Nos anos 1970 as potências nucleares viram que uma guerra total não faria bem a ninguém e a Guerra Fria foi ultrapassada, até que em 1980 o presidente americano Ronald Reagan lançou o projeto “Guerra nas estrelas” formada por um cinturão de proteção no espaço e retornaram as escaramuças diplomáticas.
Mas o povo, o terráqueo, tem a mania de se acostumar com tudo e não se vê, hoje, nenhuma comoção ou preocupação mundial com os EUA levando porta-aviões para o Mediterrâneo e a Rússia colando seus comboios. Estamos confiando que o ser humano evoluiu, ficou mais civilizado não vai apertar o botão. Não é o que os homens têm demonstrado mundo afora. Me perdoe o terrorismo vocabular. Expressionista. Mas olhe em volta. Veja que a peste (um dos cavaleiros do apocalipse) já invadiu nossos lares. E veja que a III Guerra Mundial (a guerra é também parte do apocalipse), vem nas asas da China e é a tomada do poder político e econômico global.
Escritor e jornalista