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É a fome que grita para a sociedade

Gerson Brasil, Secretário de Redação da Tribuna

A pobreza é sempre um tema recorrente no mundo, com maior visibilidade na América Latina, e em especial no Brasil. Governantes, economistas e os chamados “especialistas” declinam da subnutrição, estão convencidos e empolgam multidões da grandeza épica do país, no calor da alegria exuberante – capital importante, que mantém as relações sociais mais ou menos estáveis. Com presença recorrente, os veículos de comunicação estão a relatar a pobreza e seus matizes nas diversas regiões do país. Agora com a pandemia o tema ganhou maior destaque em função do desemprego, na casa dos 14 milhões oficialmente.

O embate político vislumbra a pobreza com fórmulas e ações na intenção de atenuar a sobrevivência de famílias, cujos integrantes não conseguem produzir aquela diminuta riqueza, nem sempre regular e ancorada na economia informal.

Os relatos da imprensa falam não de um ou dois indivíduos, mais de muitas famílias que estão recorrendo aos descartes dos lixos dos supermercados e dos produtos que são descartados pelas feiras para conseguir algum momento de alimentação, mesmo precária, na forma de dar combate à fome.

É mais uma realidade que se impõe e que não pode ser tratada com planos mirabolantes ou promessas eleitoreiras e previsões grandiosas, ou na glosa de padroeiros untados pela esquerda, racionalistas profissionais da política, médicos que os invejam, enfim, porque quem gravita em torno de três refeições, e tem dialética e soluções arrebatadoras capazes de transformar pedra em pão; “meninos beber leite nos rios e poeira da terra virar farinha”, como disse o pregador Sebastião em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.

A mendicância é visível nas ruas, nas portas de supermercados, e a caça aos lixões em busca de comida se acentua dia a dia, robustecendo as legiões de famintos.

Entidades classistas, empresariais ou representativas de segmentos da sociedade, a exemplo da ABI, da OAB e demais associações de profissionais das mais diversas áreas, poderiam formar um elo de combate eficaz à fome, buscando, por exemplo, a ajuda da Igreja, uma das poucas reservas morais da sociedade, que tem experiência no assunto com as Comunidades Eclesiais de Base. Em qualquer povoado tem uma Igreja.

Não é preciso recorrer aos governos e nem aos partidos políticos, mas sim montar um plano mínimo e uma estratégia de distribuir alimentos a esses que caminham com o fardo da fome. Cabe à sociedade, dentro dos valores que a moldaram modernamente, a pertença de todos ao homem, à humanidade, com seus defeitos, propensão à agressividade, mas também à alegria, aos festejos e aos laços sociais, como casamento,  família, batizado, a conclusão do curso, enfim, rituais que como bem descreveu  Mauss, em “A Dávida”, são instituições que nos permitem simbolizar a vida, sendo a maior delas a linguagem.

A fome não espera o índice da Bolsa de Valores subir. A fome é um  bicho, como no poema de Manuel Bandeira, uma imundície no pátio, “catando comida entre os detritos, quando achava alguma coisa engolia, não era um rato, o bicho, meu Deus, era um homem”.

A fome é uma tautologia, uma verdade; e a sociedade não pode ficar alheia, como espiões da fome. Luiza Trajano ou qualquer outro nome poderia liderar ou despertar seus pares e entidades para combater a fome, fora dos partidos políticos. No YouTube, a voz marcante de Alice Russel em “Citizens”.

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