A ciência quer tornar a Covid medicamentosa, mas os bares morrem na 4ª sem remédio
Gerson Brasil, Secretário de Redação da Tribuna da Bahia
A ciência está em busca de tornar a Covid medicamentosa e não é para depois de amanhã. Há muito, cientistas estudam antivirais capazes de defender o corpo de vírus potentes ou desconhecidos. Os avanços das vacinas vão continuar porque patógenos não terminam como os bares. Estes morrem na quarta-feira, como escreveu Paulo Mendes Campos. Não há velório, enterro, homenagem, nenhuma honraria. Essa ideia, de que os bares morrem na quarta-feira, Campos foi buscar em Mário de Andrade; e matar a saudade dos inúmeros bares que haviam no Rio e se tornaram finados, deixando órfãs famílias, amigos, inimigos, ostentações, piadas, amores, desamores e tudo mais que cabe numa cidade.
Diferentemente dos bares, as vacinas não vão desaparecer, mas os medicamentos estão tomando a dianteira para tratar o paciente de Covid com remédios. As estimativas é que essas drogas “produzam um tratamento eficaz e conveniente contra Covid-19 que pode atingir vendas anuais de mais de US$ 10 bilhões, de acordo com uma estimativa recente da Jefferies & Co. A Merck tem contrato com o governo dos Estados Unidos que implica um preço de US$ 700 para o tratamento com seu antiviral molnupiravir”. É o que relata Deena Beasleyda da Reuters, numa matéria sobre o assunto, publicada pela CNN Brasil.
Se isso dará resultado, só conferindo depois, mas é uma tentativa da ciência, mesmo a desconhecê-lo, in totem, para tornar o vírus menos ameaçador para um enorme contingente de pessoas. Possivelmente aquelas populações que vivem na Europa e nos Estados Unidos, estimadas em mais de 1 bilhão de consumidores.
Beaseyda diz na reportagem que “enquanto a Merck & Co e a Pfizer Inc se preparam para relatar os resultados dos ensaios clínicos das pílulas antivirais experimentais contra Covid-19, os rivais estão se alinhando para apresentar seus próprios tratamentos orais que esperam ser mais potentes e convenientes do que os das grandes farmacêuticas”
Ou seja, há uma corrida gigante para ocupar o mercado de medicamentos para combater e neutralizar a Covid, e com provável desfecho ainda este ano. Dificilmente haverá genérico, porque o grande mercado é o da Europa com mais de 700 milhões de habitantes, boa parte com poder aquisitivo e dos Estados Unidos com mais de 300 milhões de habitantes, mas ricos ainda.
É uma nova investida para burlar as mutações encabuladas do vírus e trazê-lo para a zona do medicamento. Seria um avanço e prova substancial da ciência como instrumento e racionalidade. Haveria rebate substancial na crença – sem a qual a ciência não se estabeleceria – de que é possível, no caso de contaminação, vencê-lo com uma droga. Mas como a ciência não se iguala à estátua de Davi de Michelangelo, é bom ficar atento, principalmente quando cientistas afirmam que é perigoso para os cidadãos de meia-idade tomar aspirina todo dia para prevenir e evitar enfarte e derrame.
A estátua de Davi, que se encontra na Galleria dell’Accademia, em Florença, é uma forma definitiva, impossível da realização de uma mimese, já os antivirais são produtos da ciência com suas imperfeições e de galanteria próxima aos efeitos especiais; talvez por não dispor dessa tralha, os bares morrem na quarta-feira, e levam consigo parte da memória das cidades. No Youtube, Paul Chambers, GO, full álbum. O contrabaixista preferido de Miles Davis. No famoso disco Kind of Blue, é Chambers que introduz e marca a Jam session, gravada em 2 de março e em 22 de abril, de 1959. Dois dias suficientes para uma obra de arte.