Semióloga Lícia Soares de Souza analisa o discurso “Ode aos Curitibanos” de Taurino Araújo
A semióloga Lícia Soares de Souza, renomada doutora em Semiologia pela Université du Québec e professora permanente do Programa de Pós-Graduação Crítica Cultural da UNEB, trouxe sua análise e comentários sobre o discurso intitulado “Ode aos Curitibanos”, proferido por Taurino Araújo durante a cerimônia de recebimento do Certificado de Responsabilidade Cultural, Comenda Estrela, concedido pelo Instituto Memória de Curitiba em 5 de abril de 2023.
Neste discurso, Taurino Araújo não apenas celebrou a honraria que lhe foi concedida, mas também aproveitou a ocasião para lançar duas obras de sua autoria: “Antropologia, História, Filosofia, Direito e Humanismo em sua Hermenêutica da Desigualdade: evidência de um Humanismo pós Lévi-Strauss” e “Se você quer subir, não aperte descer: a intuição motivacional do verdadeiro Maslow no case Taurino Araújo”. Ambas as obras apresentam uma abordagem interdisciplinar, explorando temas relacionados à antropologia, história, filosofia, direito e humanismo, com destaque para a hermenêutica da desigualdade e a motivação.
Lícia Soares de Souza, além de sua expertise em semiologia, também é membro do Centro de Estudos em Literatura Quebequense (CRILCQ) e vice-presidente da Association Internationale d’Études Québécoises para as Américas. Sua vasta experiência acadêmica e sua atuação em diferentes contextos culturais, incluindo o Canadá, a França e a Alemanha, renderam-lhe o título de Oficial da Ordem do Rio Branco, uma condecoração do Itamaraty por serviços prestados no exterior à cultura nacional.
A semióloga aborda o discurso de Taurino Araújo como um objeto de estudo da linguagem e da comunicação, destacando elementos simbólicos e significados subjacentes presentes na fala do jurista. Através de sua análise semiótica, Lícia Soares de Souza busca desvendar os discursos implícitos e as estratégias retóricas utilizadas por Araújo, bem como sua relação com o contexto sociocultural e histórico em que o discurso foi proferido.
Com sua perspectiva crítica e embasada em sólidos conhecimentos acadêmicos, Lícia Soares de Souza proporciona aos leitores uma leitura aprofundada e reflexiva sobre o discurso “Ode aos Curitibanos” de Taurino Araújo. Seu artigo promete trazer insights valiosos e contribuir para a compreensão das complexidades presentes na obra do renomado jurista.
Leia abaixo a íntegra do artigo da semióloga Lícia Soares de Souza comenta discurso Ode aos Curitibanos de Taurino Araújo:
Ode aos curitibanos: um jogo de signos e de significados na est(ética) de Taurino Araújo
Por Licia Soares de Souza Doutora em Semiologia – Université du Québec. Professora permanente do Programa de Pós-Graduação Crítica Cultural da UNEB, membro do Centro de Estudos em Literatura Quebequense (CRILCQ). Vice-presidente da Association Internationale d’Études Québécoises, para as Américas. Oficial da Ordem do Rio Branco, condecoração do Itamaraty por serviços prestados no exterior à cultura nacional (Canadá, França, Alemanha).
Ode aos curitibanos, o discurso que Taurino Araújo proferiu quando recebeu do Instituto Memória de Curitiba o Certificado de Responsabilidade Cultural, Comenda Estrela, em 5 de abril de 2023 está disponível em http://www5.tjba.jus.br/portal/wp-content/uploads/2023/05/DISCUR_1.pdf . Além de celebrar a condecoração, o discurso marcou o lançamento de duas obras do jurista: Antropologia, História, Filosofia, Direito e Humanismo em sua Hermenêutica da Desigualdade: evidência de um Humanismo pós Lévi-Strauss e Se você quer subir, não aperte descer: a intuição motivacional do verdadeiro Maslow no case Taurino Araújo.
Em Hermenêutica da Desigualdade, por exemplo, há que se pontuar a importância do cotejo do estudo jurídico com as possibilidades expressivas e semânticas das linguagens sociais. Nesse âmbito, o que vem à luz é o fato de que a clássica abstração da lei em relação ao mundo da vida exige um método para lidar com as injunções de situações particulares, desestabilizando assim certezas construídas que alimentam as desigualdades, ora para o mal, ora para o bem.
Taurino Araújo tem uma história de luta pela justiça social. Não é por acaso que ele reafirmará sua posição humanista no discurso citado. No seio da vida dinâmica, os casos concretos não são irredutíveis a uma fórmula básica e comum de interpretação da existência. Aí reside o sucesso de seu pensamento que tem percorrido os meios acadêmicos de vários países.
Como ele próprio o diz, se foi à Curitiba lançar um Estatuto da Palavra para as Ciências e um Humanismo para os Negócios, não poderia deixar de evidenciar a polissemia urbana que ali tem se instaurado desde a sua rica fundação. Com efeito, a linda capital paranaense encanta pela originalidade de sua configuração citadina bastante distinta da maioria das capitais que sempre preservam traços comuns, seja sul ou norte.
Curitiba tem origem na expressão guarani Cury, que significa pinheiro, e tyba que quer dizer abundante. O pinheiro do Paraná tem como nome científico Araucária angustifólia e nos faz lembrar das conotações estéticas que emanavam, em nossa infância, quando se falava dos móveis paranaenses que algum vizinho adquiria, quando se escutava as narrativas de passeios pelos bosques e trilhas temáticas relativas às formações culturais agenciadas pelas distintas colônias imigrantes.
Uma ode à Curitiba plurilíngue — na visão de Taurino Araújo — significa reconhecer que se trata de cidade-modelo e teste do Brasil na qual a avaliação de produtos e serviços, mesmo consagrados, garante uma importante validação no mercado. O jurista ressalta o caráter humanista de um tal posicionamento baseando-se no estudo de Don Clifton (2019) Descubra seus pontos fortes, avaliados para Taurino pelo Instituto Gallup, que aponta para caminhos progressistas de seu pensamento. Os pontos fortes de Taurino seriam os seguintes: Contexto, Excelência, Realização, Relacionamento e Comando.
Detendo-nos apenas no Contexto, podemos apreciar a força dos significados advindos deste sistema semiótico. Conhecemos a importância da diacronia na construção de uma rede de discursos e narrativas que constroem uma sociedade. O pai da Semiologia F. de Saussure (1857-1913) privilegiou os estudos sincrônicos, o que determinou a autonomia das pesquisas em Linguística, Antropologia, História, e outras disciplinas. Sabemos igualmente que, ao longo do século XX, a virada sócio-histórica da cultura (impulsionada principalmente pelos semiólogos russos) nos legou métodos distintos para análises polissêmicas, e mesmo polifônicas, do real com suas diferentes relações entre classes, seus conflitos distintos, suas contradições primordiais. A criação artística passou a ser vista socialmente determinada em sua produção. Os elos temporais entre passado e futuro foram valorizados como vetores fundamentais de compreensão da vida.
A diacronia, que dinamiza o Contexto, inspira o discurso de Taurino. Ele inclusive relembra o fato de ter atravessado, com a esposa Soraya, o Trem da Serra do Mar Paranaense, “Um dos dez passeios sobre trilhos mais espetaculares do mundo”, segundo o The Guardian, da Inglaterra. É uma estrada de ferro considerada uma obra-prima da engenharia brasileira, principalmente devido ao envolvimento dos engenheiros brasileiros em sua execução. Dom Pedro II autorizou as obras e foi proibida a utilização de mão de obra escravizada. Historiadores atestam que a estrada foi construída por operários imigrantes, poloneses, italianos, alemães, que receberam pagamento pelo serviço prestado.
A est(ética) de Taurino Araújo se encontra aí resumida nesse simples exemplo de um fato quase banal, que ilustra tão bem sua Ode aos Curitibanos, a terra brasileira dos pinheiros. Existe valorização da História, como guia de compreensão do presente, tão esfacelado e desconstruído continuamente pela liquidez efêmera das informações.
Existe em sua Ode aos Curitibanos preocupação com a responsabilidade social que ultrapassa o limite das questões meramente econômicas em proveito de princípios éticos de convivência humana. E, para concluir, nada melhor do que citar as próprias palavras do autor que consolidam o movimento diacrônico de interpretação de nossas realidades: “Respirar com Igualdade, Liberdade e Fraternidade continua sendo o maior sonho! E eternizar as experiências através da força dos símbolos, um imperativo de motivação e de continuidade. Sonho, ousadia, planejamento e serviço”.
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