Salvador

“Todo mundo se posiciona nas redes sociais, mas a maioria não vai fazer nada para combater o racismo”, diz Ireuda Silva em live

Vidas negras importam? Esse foi o questionamento que motivou a live conduzida pela vereadora Ireuda Silva (Republicanos) nesta quinta-feira (11). Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice-presidente da Comissão da Reparação, a republicana conversou com a psicopedagoga Regina dos Santos Dias e a psicóloga Juliana Galvão, ambas mulheres negras com trajetórias de luta contra o racismo.

A frase “Vidas negras importam” ganhou as redes sociais de todo o mundo, acompanhada de cards pretos, após George Floyd, homem negro dos Estados Unidos, ter sido assassinado por um policial branco. Durante sua fala na transmissão, Ireuda frisou que todas as vidas importam, mas ressaltou sua estranheza por um fato ocorrido em outro país ter gerado mais comoção do que inúmeros outros que acontecem no Brasil todos os dias.

“É preciso haver uma morte, depois de várias que estamos acompanhando, para que venha uma onda dizendo que as vidas negras importam. Posso colocar nas minhas redes que vidas negras importam, mas há uma distância muito grande no que se faz para mostrar isso. Para a nossa sociedade, vidas negras parecem não importar. Aquele homem morreu nos Estados Unidos, mas todos os dias, no Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, morrem porque a polícia entendeu que era marginal e deveria ser morto. Há um incômodo para mim dentro dessa leva de que vidas negras importam, porque todo mundo se posiciona nas redes sociais, mas a maioria não vai fazer nada para combater o racismo”, opinou, no que foi concordada pelas outras participantes. Regina dos Santos Dias, recentemente, foi vítima de atitude racista por seguranças do supermercado GBarbosa, em Salvador.

Para se ter uma ideia, 75% das vítimas de homicídio no Brasil são negras, conforme o Atlas da Violência, em 2019. Para essa parcela da população, a taxa de mortes é de 43,3 por 100 mil habitantes. Já para os não negros, esse número cai para 16 por 100 mil. Estados do Nordeste, inclusive, concentram alguns dos maiores índices. Ainda segundo o Atlas, é como se negros e brancos brasileiros vivessem “em países completamente distintos”.

Para Ireuda, o Brasil precisa cuidar mais “dos seus”. “Precisamos nos revoltar mais, com mais fervor, sacudir as redes sociais e fazer nosso grito ecoar pelas ruas diante do verdadeiro massacre dos jovens negros do nosso país. É como se o período escravocrata, quando os escravizados morriam aos montes dadas as condições desumanas em que viviam, ainda não tivesse acabado. Nossos olhos estão cada vez mais fechados para isso, quando, em vez disso, deveriam estar cada vez mais abertos e críticos”, acrescenta.

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