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A crença às vezes não é boa conselheira, no caso da Covid, é desastrosa

Gerson Brasil

Secretário de Redação da Tribuna da Bahia

Quando estávamos no meio da primeira onda da Covid acolheu-se a crença de que o verão longo e sol alto seriam um aliado tão confiante no combate à doença, quanto a vacina. Era uma especulação, mas o medo e a crença desatinados, de que o vírus seria vencido com a ajuda do sol, levaram ao desastre.

O sol sempre é chamado a testemunhar isso ou aquilo, talvez por ser quente demais, assim como o inferno, e nos ofereça a oportunidade de purgar os males, os inimigos e porque não nossos pecados, no caso de admitirmos. Quem subverte essa lógica é José Mojica Marins, com seus filmes a cenografar um inferno gelado, cheio de sangue e mulheres nuas acorrentadas; uma sensualidade que dispensava o mito da carne ardente.

Estávamos diante da crença de que mais importante era discutir o relaxamento do isolamento social e, consequentemente, a volta à normalidade das reuniões, carnavais, festas e a volta às aulas, como se a solução para o vírus estivesse adrede. Logo ali.

Mas a segunda onda do coronavírus mostrou que as crenças e a subestimação do isolamento social, digamos, não guardava consonância com a realidade, e sim com “fatores inverossímeis, que a realidade há de ter produzido, não sem muito trabalho”, nas palavras do narrador de “ A Invenção de Morel”, de Bioy Casares.

A vacina é importantíssima? É. Mas o abre e fecha do comércio, praias, e o lockdown à brasileira também têm um peso grande no combate à Covid. Realizados sem planejamento, e sim como resposta imediata ao vírus, tornam-se medidas a contar estatística.

A médica Ludhmila Hajjar confrontou as medidas tomadas no Brasil para combater a Covid, dizendo, em declaração à imprensa, ”que o país isolou de maneira heterogênea, cada cidade e cada estado de uma maneira e não investiu em testes, no momento ora apropriado, ora inapropriado. Deixou a população muitas vezes com informações equivocadas. Não investiu em teste, testou um número pequeno de pessoas”. Ou seja, incúria com a multitudinária colaboração de Jair.

Testes, padrões de exigências para a população, como o uso de duas máscaras na rua ou em ambientes fechados, higienização mais severa dos meios de transportes, rodízio de carros, horário alternado de funcionamento do comércio e das repartições públicas, nesse caso com o objetivo de não coincidir o governo estadual, com o municipal, quem sabe crie o hábito e a necessidade de novas paragens. Porém, de modo sistemático e sem a pressa dos carnavais.

O custo econômico dessa mudança é altíssimo. E isto tem de ser enfrentado, não com discursos e sim com medidas efetivas, capazes de minorar os largos prejuízos. Especialmente enfrentados por parte da população que está alocada na área de lazer e entretenimento.

A Europa, sem carnavais e festas populares suntuosas, está vivenciando a terceira onda da Covid, na forma das variantes do vírus. Mesmo de maneira organizada e sistemática, enfrenta muitos problemas. Alguns países vacinam mais, fazem lockdown, outros restringem fortemente a circulação de pessoas. Enfim, a batalha é dura.

A variante da Covid de Manaus, dizem os cientistas, está espalhada pelo Brasil, mas ainda não se tornou dominante. Até agora não há estudos que indiquem esse quadro. Caso venha a ser preponderante, nem reza vai prestar. O país vive a ressaca das festas de fim de ano, e Manaus viu a mutação da Covid se espalhar rapidamente. Os cientistas estão preocupados com o que chamam de impacto genético de longo prazo, ou seja, quais os efeitos que serão transmitidos de geração em geração. Isto é a ciência. Por enquanto tomamos medidas na base do ioiô.

O coronavírus não é gripe, e seria detestável (como a beleza) caso venha a se tornar pobre. Como se sabe, a Bíblia sacramenta que os pobres sempre estarão conosco, João 12. No Youtube, Paula Morelenbaum, Joo Kraus e Ralf Schmid recriam Samba de Verão de MarcosValle, com inventividade.

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