Assembleia Legislativa da Bahia repudia declarações xenofóbicas de vereador gaúcho
Nesta quarta-feira (01/03), a Assembleia Legislativa da Bahia aprovou Moção de Repúdio contra o vereador gaúcho Sandro Fantinel (Patriotas), da Câmara de Caxias do Sul, que ontem ofendeu o povo baiano e defendeu a prática de exploração de trabalho análogo à escravidão em vinícolas do Rio Grande do Sul. A proposição foi apresentada pelo deputado Adolfo Menezes (PSD), presidente do Legislativo Baiano.
“Este cidadão esquece que a escravidão findou no Brasil em 1888, há exatos 135 anos, sendo um dos últimos países do mundo a acabar com esta chaga. Somos o berço de fundação deste país, sétima economia do Brasil, e isso somente se conquista com muito trabalho”, destaca o documento assinado por Adolfo Menezes.
Ontem, durante sessão na Câmara Municipal da cidade de Caxias do Sul, o vereador Sandro Fantinel (Patriotas) fez declaração xenofóbicas ao fazer referência à contratação de trabalhadores baianos para trabalhar na colheita e afirmou que “com os baianos, que a única cultura que têm é viver na praia tocando tambor, era normal que fosse ter esse tipo de problema”. Ele sugeriu também dar preferência a “trabalhadores argentinos”, que seriam “limpos, trabalhadores, corretos”. Além disso, o vereador sugeriu aos produtores e empresários que “não contratem mais aquela gente lá de cima”.
O partido Patriota decidiu nesta quarta-feira (1º) pela expulsão do vereador Sandro Fantinel. Em nota, o diretório nacional da sigla comunica o parlamentar da decisão após as falas preconceituosas do vereador a respeito dos baianos. Segundo o partido, o discurso de Fantinel “está maculado por grave desrespeito a princípios e direitos constitucionalmente assegurados, à dignidade humana, à igualdade, ao decoro, à ordem e ao trabalho, já que se refere de forma vil a seres humanos tristemente encontrados em situação degradante”. Segundo o partido, essa situação “torna inconciliável sua permanência nas fileiras do Patriota, partido que prima pelo respeito às leis, à vida e à equidade”.
Confira abaixo a íntegra da Moção de Repúdio apresentada pelo deputado Adolfo Menezes:
MOÇÃO
Moção de Repúdio ao vereador gaúcho Sandro Fantinel (Patriotas), pelos insultos e xenofobia dirigidos ao povo baiano, nesta terça-feira (28.02), durante descabida e sórdida defesa de trabalho análogo à escravidão.
O deputado infrafirmado vem, com esteio nos dispositivos regimentais, fazer inserir na ata dos trabalhos desta egrégia Casa Legislativa, Moção de Repúdio ao vereador gaúcho Sandro Fantinel (Patriotas), pelos insultos e xenofobia dirigidos ao povo baiano, nesta terça-feira (28.02), durante descabida e sórdida defesa de trabalho análogo à escravidão.
Não consiste em qualquer novidade aos brasileiros a onda de empoderamento da estupidez e da ignorância que se abateu sobre o Brasil, inclusive de figuras públicas, a partir da comunicação dos porões do governo central que se findou no último dia 31 de dezembro, para alívio do país.
Mas, bem que o vereador da Câmara Municipal de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, que atende pela alcunha de Sandro Fantinel, poderia poupar os brasileiros, notadamente os baianos, de um de seus desarranjos intelectuais.
Exatamente no dia em que o Brasil celebrava uma das principais efemérides de suas letras jurídicas, o centenário de morte do advogado, jurista, diplomata, filólogo, político e jornalista, o baiano e soteropolitano Rui Barbosa (1849 – 1923), o edil gaúcho expele insultos e ofensas ao povo baiano, num dantesco espetáculo de xenofobia, próprio dos corredores de Auschwitz – um dos campos de concentração nazista na Polônia.
Instado a comentar sobre o escândalo do trabalho escravo praticado por vinícolas do Rio Grande do Sul, contra baianos do município de Valente, descoberto pelo Ministério Público do Trabalho, o vereador defendeu a prática criminosa do trabalho análogo à escravidão e disse que as empresas deveriam passar a contratar argentinos, e não mais “essa gente lá de baixo”, referindo-se ao guerreiro e trabalhador povo do Nordeste.
Este cidadão esquece que a escravidão findou no Brasil em 1888, há exatos 135 anos, sendo um dos últimos países do mundo a acabar com esta chaga. Somos o berço de fundação deste país, sétima economia do Brasil, e isso somente se conquista com muito trabalho.
“Essa gente lá de baixo”, vereador, é um povo trabalhador, construtor desse país com o suor do rosto. Que, na verdade, ‘lá de baixo’ só tem mesmo a sua posição geográfica.
Mas também um povo festeiro, que ajudou e ajuda, sobremaneira, a fazer a cultura desse país ultrapassar fronteiras. Que os anos o ensinem, vereador, que a vida não é somente mourejar, mas também “diversão e arte”, como bem cantou o nosso genial Caetano Veloso.
Ao destilar esse ódio contra os baianos e demais nordestinos, esse ‘nobre vereador’ revela desconhecer a história e a cultura brasileiras, ignorando a Bahia como enorme celeiro de talentos mundiais, nos mais diversos campos da atividade humana.
Diferente do que pensa o ‘nobre edil’, entendo que este preconceito e ódio derramados contra os baianos, não devem ser generalizados contra o povo gaúcho, com figuras do escol de Getúlio Vargas, Leonel Brizola, Érico Veríssimo, Elis Regina, Lupicínio Rodrigues, Mário Quintana, Luís Fernando Veríssimo, entre outros.
Sei bem que a estupidez anda empoderada no Brasil – que precisará trabalhar duro para erradicá-la -, mas o nanismo intelectual e a falta de humanidade do edil poderiam deixar para transbordar o esgoto num outro dia. A bem da história jurídica desse país.
Jamais no dia do centenário de morte de um dos maiores abolicionistas brasileiros. Do homem que ganhou o cognome de “Águia de Haia” pelo mais notório dos diplomatas brasileiros, o Barão do Rio Branco.
Rui Barbosa, ‘nobre vereador’, foi o homem que defendeu e trabalhou pelo ensino público, obrigatório e laico para todos os brasileiros, da infância à universidade.
Foi o homem que fomentou a industrialização do país, visando a sua modernização e o crescimento da economia. E que deixou de legado às futuras gerações um acervo com mais de 100 volumes publicados.
Pelo exposto, é que tomei a iniciativa de apresentar esta moção de repúdio ao exercício de xenofobia do vereador Sandro Fantinel (Patriotas), contra os baianos e demais nordestinos. Ao tempo em que peço que o mesmo seja declarado persona non grata em todo o território baiano.
Que seja dado conhecimento desta Moção de Repúdio à Câmara de Vereadores de Caxias do Sul (RS), à Executiva Estadual do Patriotas, e à Executiva Estadual do PSD, e aos governadores da Bahia, Jerônimo Rodrigues, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e ao presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado Vilmar Zanchin (MDB).
Sala das Sessões, 1 de março de 2023
ADOLFO MENEZES
Dep. Estadual
Presidente licenciado da ALBA
Foto: Sandra Travassos/ALBA/Arquivo