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Câncer e gravidez são compatíveis?

Mulheres que descobrem tumores em idade reprodutiva e até durante a gestação podem realizar o sonho da maternidade

Embora o câncer acometa mais frequentemente pessoas que já ultrapassaram os 50 anos de idade, cerca de 15% das mulheres diagnosticadas com um tumor ainda estão em idade reprodutiva. Pelo menos metade dessa população deseja engravidar, mas apenas 10% das pacientes realizam o sonho da maternidade depois de vencerem a doença. Apesar do tratamento oncológico ter um grande potencial de impacto na fertilidade, mulheres que planejam uma gravidez futura devem conversar com o seu médico sobre o assunto, pois técnicas de oncofertilidade ampliam as chances de gravidez. Além disso, apesar de ampliarem riscos para a saúde da mãe e do bebê, tumores descobertos na gestação podem ser tratados com sucesso em muitos casos.

Ao receber o diagnóstico de um câncer, é comum que a mulher se concentre apenas em buscar a cura para o tumor. Neste momento de turbulência na vida, dificilmente ela pensa em gravidez. Contudo, com o aperfeiçoamento dos tratamentos e diante da ampliação das chances de cura nos últimos anos, a possibilidade de gravidez após o câncer tem sido cada vez mais considerada. O melhor momento para investir na preservação da fertilidade é antes de iniciar o tratamento oncológico.

De acordo com a oncologista Renata Cangussu, integrante do grupo “Mulheres na Oncologia”, durante muitos anos, acreditou-se que as mulheres diagnosticadas com câncer não deveriam engravidar, pois a gravidez poderia aumentar o risco de retorno da doença. Felizmente, essa informação já foi desmistificada, pois hoje sabe-se que é seguro engravidar após o câncer. “Não existe um tempo após o diagnóstico considerado ideal, mas em geral, recomenda-se aguardar dois anos após a conclusão do tratamento com quimioterapia. Obviamente, os casos precisam ser individualizados e a perspectiva de engravidar está vinculada a pessoas que estão sem evidência de doença”, explicou a presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica Regional Bahia (SBOC-BA).

Diagnóstico na gestação – A descoberta do câncer durante a gestação de um bebê não costuma ser fácil, mas as dificuldades inerentes à situação podem ser superadas, como aconteceu com a baiana de acarajé Elaine Michele Assis Cruz, que descobriu um câncer de colo uterino em plena gravidez, aos 31 anos. “Eu tinha o instinto maternal aflorado, inclusive criei uma sobrinha e uma afilhada, mas engravidar não estava nos meus planos. Eu estava em um momento bom na vida profissional e não possuía vínculo afetivo com o futuro pai da minha filha e, por isso, a descoberta da gravidez associada a um tumor no colo do útero me deixou angustiada e com medo do que o futuro me reservaria”, relatou.

Do ponto de vista clínico, tudo parecia tranquilo até que Elaine descobriu o câncer aos cinco meses de gravidez. “Minha vida ganhou um novo significado quando decidi lutar pela vida e por aquela criança que eu passei a amar incondicionalmente. Eu não queria que nada de ruim acontecesse conosco. Me sentia abalada e preocupada, mas o apoio da minha irmã, de primas, amigos verdadeiros e profissionais de saúde me mantiveram firme e forte. Só pude fazer os exames necessários para iniciar a quimioterapia depois da gravidez. Felizmente, venci o câncer e a maternidade me transformou.  Se não fosse a gravidez, eu poderia não ter descoberto o tumor enquanto ainda era possível tratá-lo.  E eu também não acordaria todos os dias com mais vontade de viver  para cuidar do amor da minha vida, a minha filha Odara”, completou a baiana.

Reprodução assistida – Antes de iniciar o tratamento oncológico, as mulheres que planejam engravidar devem conversar com seu/sua oncologista e procurar uma clínica de reprodução humana, a fim de receberem orientações sobre o congelamento (criopreservação) de gametas ou até de embriões para preservação da fertilidade, já que o risco de comprometimento da qualidade dos óvulos causado pela toxicidade das drogas quimioterápicas é real. A criopreservação pode ampliar as chances de sucesso de técnicas de reprodução assistida após a vitória sobre o câncer, quando uma gravidez natural não acontece.

Para superar um câncer de mama descoberto um mês antes do seu casamento, a fisioterapeuta Rita de Cássia Barros passou por 16 sessões de quimioterapia e duas cirurgias, a primeira para retirada das mamas afetadas e colocação de próteses e a segunda para reconstrução dos mamilos. “O tratamento foi longo, mas tranquilo, graças a Deus, à minha família, aos amigos e aos profissionais de excelência que me apoiaram. Perdi apenas 30% dos cabelos porque usei uma touca de crioterapia. Pode parecer um detalhe, mas isso foi importante para mim”, lembrou. Quando conseguiu vencer o câncer, Rita se tornou uma “tentante”, termo popular usado para descrever mulheres que tentam engravidar.

Como a gravidez natural não ocorreu após três anos de tentativas, provavelmente em decorrência do tratamento oncológico, ela se submeteu ao tratamento de Fertilização In Vitro (FIV), técnica de reprodução assistida que facilitou a concepção de sua filha Ana. No primeiro mês, havia um risco de aborto que preocupava a futura mamãe. “Tive que me afastar do trabalho, inclusive pelos riscos de contaminação pela Covid-19, pois estávamos no meio da pandemia, mas a gestação foi tranquila. Cada ultrassom despertou em mim uma emoção enorme. Curti muito o barrigão, os movimentos da minha bebê… Quando descobri que era uma menina, então, eu era só alegria, pois sempre sonhei em ter uma filha. Louvo a Deus que, em sua infinita bondade, me permitiu ser mãe de menina. O momento mais feliz da minha vida foi ver minha pequena pela primeira vez. Minha filha é a minha maior alegria”, celebrou Rita de Cássia.

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