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Cirurgia devolve qualidade de vida a pacientes com Parkinson

Estimulação cerebral profunda controla sintomas motores da doença e favorece redução do uso de medicamentos, com consequente diminuição de efeitos colaterais

Um dos tratamentos invasivos mais eficientes e seguros para a Doença de Parkinson (DP), a cirurgia de estimulação cerebral profunda (DBS, em inglês) não cura, mas controla sintomas da doença e melhora a qualidade de vida, com ganho de autonomia para o paciente. Descrita por James Parkinson em 1817, a DP é a segunda enfermidade neurodegenerativa mais comum no mundo (atrás apenas da doença de Alzheimer) e, segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que, pelo menos, 200 mil pessoas vivam com esta condição no Brasil.

A estimulação cerebral profunda controla os sintomas motores – principalmente tremores, rigidez e lentidão dos movimentos – e está associada à melhora da qualidade de vida dos pacientes, quando selecionados de forma criteriosa. “Com a intervenção e o controle dos sintomas, o paciente pode reduzir o uso de medicamentos e sofre menos com efeitos colaterais, ganha em autonomia, independência, bem estar e qualidade de vida”, enumera o neurocirurgião do Hospital Cárdio Pulmonar Carlos Romeu, com experiência na realização da técnica, que ainda reúne poucos especialistas habilitados em Salvador.

A cirurgia leva, em média, 6 horas e inclui preparo com realização de imagem pré-operatória, anestesia, implante de dispositivo cefálico, implante de eletrodos cerebrais com realização de testes neurológicos intraoperatórios e implante do neuroestimulador (uma espécie de “marca-passo” cerebral), como enumera o neurocirurgião.

São feitas duas pequenas incisões de cada lado na região frontal, que geralmente ficam escondidas pelo cabelo, e uma outra incisão na região peitoral para abrigar o neuroestimulador, semelhante à uma incisão para marca-passo cardíaco. “A recuperação em geral é rápida e o paciente tem alta hospitalar cerca de 48h após o procedimento, sem restrição da mobilidade”, diz.

Com o uso de finos eletrodos em regiões cerebrais profundas são bloqueados os sinais defeituosos que geram tremores e outros sintomas. “A estimulação controlada com a ajuda dos eletrodos implantados modula o circuito defeituoso na Doença de Parkinson restabelecendo a transmissão de informação neural e consequente retorno do controle do movimento”, diz o neurocirurgião, explicando que a corrente elétrica utilizada é muito pequena e feita em pontos estratégicos do cérebro.

Vale ressaltar que nem todos os pacientes com a Doença de Parkinson apresentam tremores, o que gira em torno de 30% dos casos, sendo mais comuns sintomas como a lentidão dos movimentos e a rigidez, como explica o médico.

Indicação

A maioria dos pacientes com a Doença de Parkinson pode fazer a cirurgia, mas nem todos necessitam da intervenção. Portanto, a seleção do paciente ideal é feita inicialmente pelo neurologista e depois submetida a uma avaliação multidisciplinar com neurologista, neurocirurgião, psiquiatra e neuropsicólogo para avaliar a precisão da indicação e julgar o alcance dos benefícios do procedimento para cada caso.

“Entre os critérios para a adoção da cirurgia é necessário ter a certeza do diagnóstico de Parkinson, observar se as medicações ainda fazem o efeito esperado e atestar que o paciente tem a qualidade de vida comprometida pela dificuldade de controle dos sintomas – dificuldade de locomoção, tremor, lentidão nos movimentos ou dor. Indivíduos com sinais de demência, doença psiquiátrica grave e problemas de equilíbrio e marcha severos devem ser evitados”, esclarece o neurologista e especialista em Transtornos do Movimento Guilherme Valença, coordenador do Serviço de Neuromodulação em Transtornos do Movimento do Hospital Cárdio Pulmonar.

Ainda como explica o neurocirurgião Carlos Romeu, o ideal é que o paciente tenha pelo menos 5 anos de doença para que possa ser melhor avaliado e outras causas mais raras de parkinsonismo que não respondem à terapia de estimulação cerebral possam ser excluídas.

Sobre a doença

Crônica e progressiva, a Doença de Parkinson é uma enfermidade degenerativa do sistema nervoso central causada por uma diminuição da produção do neurotransmissor dopamina, levando ao comprometimento dos movimentos voluntários do corpo na forma de lentidão dos movimentos, tremores, rigidez muscular e desequilíbrio, como define o neurologista Gabriel Xavier, também da equipe de Neurologia do Hospital Cárdio Pulmonar.

O diagnóstico da doença de Parkinson é essencialmente clínico e feito por um neurologista, que diferencia a enfermidade de outras que também afetam os movimentos do corpo. Exames complementares podem ajudar no diagnóstico, como ressonância magnética e cintilografia cerebral.

“O tratamento não-cirúrgico se baseia no uso de medicamentos e inclui fisioterapia, fonoaudiologia, suporte psicológico e nutricional e atividade física para melhorar a qualidade de vida do paciente e reduzir o prejuízo funcional”, diz Gabriel Xavier.

Outras Indicações

Como acrescenta o neurologista Guilherme Valença, além da Doença de Parkinson, a cirurgia de estimulação cerebral profunda (DBS) pode ser indicada para outros transtornos do movimento refratários ao tratamento medicamentoso. Indivíduos portadores distonias e outras formas de tremores, incluindo o tremor essencial, podem se beneficiar imensamente deste procedimento.

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