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Pelé, Sua Majestade e a Civilização Brasileira

Taurino Araújo, advogado, escritor, professor Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais, lifementoring consultantacademico@taurinoaraujo.com

 

Drama escrito e dirigido por Michael e Jeff Zimbalist. Pelé: o nascimento de uma lenda (2016). Ressignificar das origens e rumos da Civilização Brasileira, desde os fundos antropológicos, gerenciais, imagéticos, filosóficos, abrangentes de todos e diversos, que o futebol evoca, justamente antes da posse. 1º do Ano, Confraternização Internacional.

Hora de relembrar a infância de Sua Majestade em Três Corações e, depois, em Bauru, onde demonstra imensa habilidade ao jogar nos campos de várzea perto de sua casa e, incentivado pelo pai (Seu Dondinho), aceita o desafio de jogar na equipe do Santos.

          Como pretexto do filme, outra época decisiva para a nossa nação, depois da vergonha da Copa 50, no Uruguai: “Se você quer jogar profissionalmente não pode ter vergonha de si; você deve praticar. Todo o resto virá depois”, dizia o pai e mentor, debaixo de uma mangueira e tendo as próprias mangas como bolas de treinar e de fazer gols.

Momento de reviver o triunfo da ginga, da autenticidade e da alegria de viver do brasileiro, cujo ponto de partida teria sido o país mais azarão de todos, antes da verdadeira volta por cima de Pelé, depois de vencer as próprias dificuldades decorrentes da distância da família e de sua juventude perante os demais jogadores, ele finalmente supera os problemas  exibindo talento e, além de convocado para a Copa  do Mundo da Suécia,  em 1958, aos 17 anos, entra em campo para a disputa final que o consagra.

 É certo que as biografias valem até mesmo pela mera iconização e modelagem do triunfo individual. Porém, Capararo, Freitas Junior, Lise e Lise (2017), afirmam que a extensão da biografia de Pelé não está relacionada apenas ao uso linguagem fílmica, mas à holística acerca de um jogador negro, no auge de sua carreira, que possivelmente dialogava com os ideais identitários coletivos edificados pelos intelectuais de então.

Logo, Gilberto Freyre — Adriana Facina (2004) —teria elaborado uma tese a respeito de uma brasilidade, cujo traço essencial é a malemolência e criatividade presentes no futebol. Trata-se do triunfo da ideia mestiçagem que influenciou José Lins do Rego, Mario Filho e Nelson Rodrigues na análise do imaginário nacional.

Quando estive no Japão em 2005, Pelé era a palavra que mais ouvia, em qualquer canto que fosse, quando se referiam ao fato de eu ser brasileiro e a esse meu fazer plural e cheio de esperança, pensamento, sentimento e   ação, ao reforçar a figura do receptor também protagonista, fundamento teórico de um todo à época construção: a Hermenêutica da Desigualdade.

Esse é um pálido adeus à personalidade brasileira mais conhecida de todos os tempos, que já rivalizou até com a Coca-Cola. Pelé, Sua Majestade e a Civilização Brasileira.

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