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Especialista esclarece mitos e verdades sobre a anestesia

Medo de passar pelo procedimento deve-se principalmente à circulação de informações incompletas ou falsas 

A história da anestesia retrata a evolução da técnica que viabilizou inúmeras inovações na medicina. Apesar de ser um procedimento médico seguro, muitas pessoas o temem em maior ou menor intensidade. A circulação de mitos e informações incompletas ou falsas explica, pelo menos em parte, esse medo. Não raramente, surgem questões como “e se eu não acordar depois de tomar anestesia geral?”, “e se eu tiver uma alergia à anestesia?”, “se a anestesia não fizer efeito vou ver e sentir ‘tudo’ durante a operação?”, “posso perder a memória depois da cirurgia?”, “a anestesia do parto pode afetar o bebê?”, entre outras.

Os avanços da especialidade na última década reduziram 25 vezes o número de mortes atribuídas à anestesia, de uma a cada 10 mil atos anestésicos para uma em 250 mil, atualmente. O uso de fármacos cada vez mais seguros e extensamente testados, a administração personalizada e adaptada a cada situação clínica, a inovação tecnológica dos equipamentos de monitorização das funções vitais, o treino especializado e intensivo dos anestesiologistas e a adoção de boas práticas fazem da anestesiologia um modelo de segurança e de melhoria contínua de qualidade, inclusive para outras especialidades médicas.

Como muitos procedimentos da medicina, a anestesia apresenta riscos associados, porém, “a presença do anestesiologista ao lado do paciente para tratar qualquer intercorrência da cirurgia faz toda a diferença”, destacou o anestesiologista Fabrício Tobias Carneiro. Conselheiro fiscal da Sociedade de Anestesiologia do Estado da Bahia (SAEB), o especialista afirma que o papel básico da anestesia é bloquear temporariamente a capacidade do cérebro de reconhecer um estímulo doloroso por meio da administração de medicamentos por via intravenosa ou inalação.

Antes de qualquer cirurgia que tenha indicação para anestesia geral, todo paciente deve passar por uma consulta de anestesiologia, para avaliação da história clínica, antecedentes de cirurgias ou anestesias prévias e possíveis complicações associadas. Nesse momento, além do esclarecimento de dúvidas, também são realizadas revisões da medicação habitual e avaliações da via aérea e cardiopulmonar do paciente.

Esclarecimentos – Sobre o mito de que a anestesia pode provocar uma reação alérgica grave, Fabrício Tobias esclarece que, na verdade, o que pode ocorrer é uma alergia a fármacos específicos ou a alguns componentes dos equipamentos utilizados (exemplo: látex das luvas). “Buscamos conhecer a história clínica do paciente antes da cirurgia justamente para evitar surpresas, mas se alguma alergia desconhecida surgir durante o procedimento, o anestesiologista tem qualificações para lidar com essas situações e resolver a maioria dos casos de emergência”. Até existem testes capazes de prever reações alérgicas adversas, mas eles são específicos para determinado agente causador e servem para confirmar suspeitas de alergia, sendo usados apenas em doentes de alto risco e não de forma rotineira ou às cegas.

A respeito da possibilidade de estar “acordado” e sentir “tudo”  durante uma cirurgia mesmo após a anestesia, o especialista explica que é pouco provável e de todo indesejável que isso aconteça. A recuperação acidental da consciência durante a operação pode teoricamente ocorrer, mas estima-se que isso só ocorra em uma a cada 20 mil anestesias. Muitos pacientes reportam como sensação mais frequente a memória breve de ouvir alguém falar, mas casos de paralisia total do efeito anestésico são muito raros. Existem diferentes modos de detectar e prevenir que tal situação aconteça. Um deles, para citar apenas um exemplo, é utilizar monitores específicos para avaliar a “profundidade anestésica”.

Ao esclarecer os efeitos que a anestesia geral pode provocar na memória dos pacientes, Fabrício Tobias aponta que foram identificados como fatores de risco para a disfunção cognitiva pós-operatória a idade avançada, a existência de perturbações prévias do sono ou déficits de memória, a carência de vitamina D, a diabetes e o uso de determinados fármacos anestésicos. “Essas alterações e problemas de memória, que também são raros, podem ser minimizados através do uso de monitores específicos durante as anestesias gerais e por meio de uma rápida reintegração dos doentes em risco em seu ambiente familiar depois da cirurgia”, explica.

Ao contrário do que algumas pessoas imaginam, a anestesia peridural ou combinada (raqui e peridural) não interfere na evolução do trabalho de parto normal. “O objetivo é aliviar a dor da paciente e proporcionar o bem estar que ela precisa para fazer a força necessária”, detalha o conselheiro da SAEB. Em geral, o remédio age bloqueando os nervos da mãe e o bebê não é anestesiado. Se passar um pouco para o bebê não há nenhum efeito importante e ele nasce bem. O mesmo vale para a anestesia raqui, utilizada nas cesarianas.

Tipos – A anestesia mais temida pelas pessoas é a geral, na qual, por ação de fármacos, o doente fica num estado reversível de coma, inconsciente, sem capacidade de respirar autonomamente e com os sinais vitais vigiados pelo anestesiologista, através de monitores específicos. “O procedimento é totalmente controlado para que, ao fim da cirurgia, o paciente recupere gradualmente a consciência e a estabilidade das suas funções fisiológicas, sem dor e com o máximo de conforto e segurança”, destaca Fabrício Tobias, que atua como anestesiologista dos Grupos ATS e Gaba, em Salvador.

Na anestesia regional, o efeito de anestésicos locais retira a sensibilidade de determinada zona do corpo (um braço, uma perna ou da “cintura para baixo”, por exemplo), injetando-se esses fármacos junto de nervos ou através de uma picada na coluna vertebral (epidural). Já as técnicas de sedação consistem num estado variável de quietude e alteração da consciência que permite ao paciente tolerar procedimentos mais invasivos (como uma colonoscopia) com o mínimo de desconforto.

Breve histórico – A anestesia, como é conhecida hoje, é uma aquisição recente na história da humanidade. Relatos provenientes da Grécia Antiga indicam que Hipócrates, considerado o pai da medicina, utilizava uma esponja soporífera embebida em substâncias sedativas e analgésicas extraídas de plantas e que o médico Dioscórides descobriu os efeitos anestésicos da mandrágora, um tubérculo muito parecido com a batata. Já os chineses se valiam dos conhecimentos de acupuntura enquanto os assírios comprimiam a carótida para impedir que o sangue chegasse ao cérebro. Gelo ou neve para congelar a região a ser operada, embriagar o paciente e hipnose foram outros recursos usados para aliviar a dor no passado. Quando de nada adiantavam, as cirurgias eram realizadas a frio, com os doentes imobilizados à força. Felizmente, esse panorama mudou e muito. Hoje, a anestesia é um procedimento médico seguro, essencial para o bem estar do paciente nos mais diversos procedimentos cirúrgicos.

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