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O começo de uma nova vida, sem repetição

Gerson Brasil,

Secretário de Redação da Tribuna da Bahia

Parece que estamos próximo a descobrir que o Brasil é redondo como uma bola de futebol americano e se retornarmos ao passado, por invenção e acabrunhamento, com incúria convicção, todos os males podem ser surrupiados, num ato de abnegação carnavalesca. São divertidas as certezas das ocorrências, a fatalidade que se impõe, soterrando qualquer dúvida, mesmo que ela esteja na janela, como espiã da vida, mas ruminando. Outra estrada está descartada, porque o perigo é iminente e o padroeiro vai salvar o Brasil, quem seguir seus passos. Afinal, é santo e milagreiro. É um anacronismo sonhar com o passado, bem como uma covardia não se dar ao luxo de se abrir à rubrica que Dante chamou de  Incipt vita nova  ( o começo de uma nova vida). Claro, sem o céu de teologias milagrosas, capaz de derrotar a ciência, e nem o materialismo populista, deista, na concepção arraigada de que “eu sou o centro de um círculo ao qual igualmente se referem todas as partes da circunferência: tu não és assim. Eu sou constante, tu mudas frequentemente de propósito”.

Escolhe-se o condicionante, para melhor estar. Se isto não presta, aquilo é bom, ou aceitável, uma espécie de defesa, confortável; a proteger de qualquer risco e também acolher o fraquejo. Balzac dizia que “a esperança é uma memória que deseja”. Busca uma aventura, não a imitação de uma galhofa, já inscrita nos corpos dóceis, na política, em boa parte desmemoriada. Da qual só sobra a fala, uma voz ansiosa moldada para ser ouvida, mas não para a escuta. O médico escuta o paciente e o traduz à conformidade científica. Sem isso seria uma fala para nada.

Diferentemente, a fala do pregador é preconcebida, promete a ausência dos aborrecimentos, quem sabe extingui-los, mas trata-se de uma repetição, a seqüestrar a dúvida. Tem a mesma eficácia desses bombons vendidos nas esquinas; com o papel a se desmanchar nas mãos e a clareza de um copo de betume, mas deve-se acreditar porque faz sentido. O bom samaritano cumpre uma função importante, nesse quadro, ele reparte o pão para afastar a dúvida e manter a comunhão, mas sempre alguém não é contemplado. Ele prontamente cede o lugar e vai se penintenziare. Nada como seguir a repetição, a deus e a concórdia. Prosseguir, seguir adiante é demais arriscado.

E se a rede não estiver armada em baixo do trapezista? E se chover? E se o dólar subir? Se bem que ele sempre está na ribalta, de onde melhor observa  os fatos e sobe e desce à conveniência e não por rebeldia. Procura-se uma cura, de preferência milagrosa, capaz de ofertar ordem e progresso, como aconteceu no “milagre econômico brasileiro” registrado entre 1968 e 1973. Depois veio o desastre. O outro milagre, esse petista, resultou em recessão desmesurada e desemprego avassalador. Um novo milagre se aproxima?

Mas não é somente o objeto que está doente, a economia, a educação, a saúde. O Cidadão fatigado adoece, ou adormece, no entanto, por mais que recite a angústia, tenta a todo custo carnavalizar o morto pronto para se inaugurar.

A insatisfação é larga e seria impossível emoldurá-la; a base excede e muito a altura, e o conformismo, ou a revolta, uma saída fácil. Como é preciso fazer sentido, é imperioso não ficar fora da foto, mesmo que  seja uma piléria. No conto de Bioy Casares, a “Invenção de Morel”, o personagem construiu uma máquina em que “as pessoas se viam pela primeira vez, sem recordar as anteriores”. Estavam “livres de más notícias e de doenças. Um grandiossísima idéia, “Pode-se pensar que nossas vidas é como uma semana dessas imagens e que volta a se repetir em mundos contíguos”. Embora a hipótese possa parecer charmosa, só temos uma vez, uma ação, um voto, e nesse caso o que conta não é a “Invenção de Morel” e sim a imaginação, e não a verdade. É sempre a imaginação que está no poder, construída ao longo do tempo na forma de crenças e de verdades provisórias, e com impurezas, de difícil depuração, a não ser com oblação ou ideologias. O futuro sempre escapa. Dotá-lo antecipadamente seria uma incongruência. No Youtube Alice Russel, Citizens.

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