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O passa-moleque de Bolsonaro e a Pfizer dos baianos

Jolivaldo Freitas

Na briga com a politização da vacina, que vem ocorrendo desde o ano passado entre o governador de São Paulo, João Dória e o presidente Bolsonaro, o que se viu a princípio foi o presidente rejeitando a vacina do Butantan que ele chamou de vacina de Dória e até tripudiou quando se pensou que ela seria menos que um placebo e a insistência do paulistano em conseguir levar para São Paulo fosse qual vacina fosse. Em paralelo o administrador de São Paulo criou uma força-tarefa com os ex-presidentes Michel Temer e José Sarney, para que fossem sensibilizar os chineses a mandar os insumos para a fabricação da CoronVac no Brasil.

Bom lembrar que durante o ano passado o presidente a seus familiares – e até um ex-ministro da Educação e o ministro das Relações Exteriores – tripudiaram os chineses, fazendo “bullying” como meninos levados de escola primária e acusando a China até de criar e espalhar irresponsavelmente o coronavírus pelo mundo.

Não é que depois não querer fechar acordo de fornecimento com a Pfizer – que avisou, isso lá em novembro passado que quem saísse na frente teria direito à vacina, pois essa não chegaria para todo mundo – e na ausências de garantias da Índia e sem a Anvisa aprovar a Sputnik,  a solução foi o presidente baixar a crista, deixar de fungar no cangote do seu ministro Pazzuelo, da Saúde e fazer vistas grossas para a vacina do Butantan que tanto esculhambara. De tal maneira que quando a Anvisa aprovou a CoronaVac Bolsonaro sumiu das redes sociais durante quase uma semana (seus filhos sumiram mais).

Então depois de a vacina ter sido distribuída, garantindo a vida de pelo menos uma certa quantidade de profissionais da linha de frente, surgiu a questão donIFA, esses tais insumos básicos para a fabricação do imunizante. O governo estava queimado com a China e inclusive surgiram notícias de que ela tinha condicionado – estaria na voz do embaixador chinês no Brasil – da saída do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Pelo visto a “ingerência” dos ex-presidentes a mando de Dória deu resultado e os insumos foram liberados pelo governo chinês.

Foi aí que quando a embaixada chinesa assegurou a vinda do produto que entrou Bolsonaro que estava quieto somente à espreita. Do nada ele atravessou João Dória e anunciou que o governo tinha conseguido o insumo graças à ação do queimadézimo ministro Pazzuelo. Antigamente isso se chamava de “dar o migué” e mais antigamente ainda era um “passa-moleque”. É o no popular expressionismo baiano o tal de “gozar com a… do outro” ou mesmo o clássico “dar o bote”. Como dizem os da provença, Bolsonaro é um “fura-olho”.

Escritor e jornalista. Email: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br

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