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Taurino Araújo e a Semana de Arte Moderna

Por Eduardo Boaventura, filósofo, escritor, Doutor em Heidegger, professor de Filosofia eduardoboaventura.filo@bol.com.br

Através do quadro Saturno devorando um filho (1819-1823), de Francisco de Goya, uma metáfora sobre “um movimento de intenção modernizante”. Ali, enxergo a atualização de passado, presente e futuro em Michel de Montaigne, Gregório de Matos, Oswald de Andrade, nos tropicalistas e em Taurino Araújo, através de sua epistemologia genuinamente brasileira, — afora o conceito de verdade absoluta [conforme sonhou a Semana de Arte Moderna de 1922 em sua tensão por consagrar o canônico brasileiro e ao mesmo tempo ser o anticanônico da ruptura] — abrangente de pelo menos 19 áreas conhecimento e, por isso, considerada por Nelson Cerqueira um monumento inovador au-delà de Sócrates, Platão e Aristóteles.

Atenho-me, à síntese Luiz Aberto Brandão sobre uma “terapêutica” que, “ao olhar para dentro busca compatibilizar particularidade de universidade a que se associa o ‘olhar para fora’, em que se exporta modificado, aquilo que se importara”, endo e exocanibalismo voltado para a definição identitária da Civilização Brasileira, em constante assimilação e higienização.

Segundo Adriano Bitarães Netto em Antropofagia oswaldiana: um receituário estético e científico, a antropofagia de Oswald de Andrade consiste em “resgatar os valores nacionais para divulgá-los em todo o mundo, fazendo com que o europeu aceitasse a cultura estrangeira não apenas pela perspectiva excêntrica, mas pelos critérios da diferença e da autenticidade”.

Num país de mestiços, a antropofagia não é meramente uma opção entre outras possíveis, trata-se de sobrevivência, espiritual e física, no tempo/espaço da assimilação das diferenças. 95 anos depois, Taurino alçou tais critérios a hermenêutica própria. Para Marco Aurélio Werle, numa perspectiva heideggeriana, o homem é normalmente um ser um ser estranho, tomado pelo distanciamento e a familiaridade, essência da proximidade, [que] deve ser conquistada [e é conquistada em Taurino Araújo] a partir dessa distância em relação a si e às coisas.

Sempre de olho em Chronos (chamado de Saturno pelos romanos), Taurino Araújo se mostra atento a esse homem que devora o próprio filho: mais cedo ou mais tarde, somos vencidos (devorados) pelo tempo, enquanto o fazer de cada um é (ou não é) assimilado por ele, fora desse mesmo tempo…

A Hermenêutica da Desigualdade é marco decisivo do pensamento científico e artístico brasileiro e universal, síntese de teses da ciência, da filosofia e das artes, voltada para a construção de uma sociedade mais justa, na qual as diversas etnias, classes sociais, estratos econômicos, políticos e ideológicos possam conviver harmoniosamente, considerando-se as peculiaridades das suas potências de vida, quando Taurino Araújo insere a desigualdade entre os conceitos jurídicos fundamentais.

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